Topázio Cinemas | Tecnologia revolucionou mercado exibidor

As mudanças de comportamento e o advento de novas tecnologias causam revoluções constantes no modo em que nos relacionamos com produtos e serviços. No ramo do entretenimento não é diferente e o cinema é um dos setores que mais apresentou novidades nas últimas décadas. Com quase 40 anos dedicados à sétima arte, Paulo Celso Lui, da Lui Cinematográfica, administradora do Topázio Cinemas, conta quais foram as principais mudanças das últimas décadas.

(Foto: Antonio da Cunha Penna)

“O Topázio Cinemas abriu suas portas com uma sala no Shopping Jaraguá em setembro de 1993 e os tempos eram realmente diferentes. Até 1995, mais ou menos, as salas de cinema de municípios médios e pequenos do interior enfrentavam dificuldade para receber uma cópia 35 milímetros de qualquer filme principalmente lançamentos”, conta Paulo. “Os distribuidores não montavam estratégias para atingir todo o Brasil, como vemos hoje”.

Lui lembra que os filmes possuíam lançamentos concentrados na capital paulista, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba ou cidades como Santos, Campinas, Ribeirão Preto, Sorocaba, entre outras. “Tínhamos uma praça reduzida de exibidores e muitos ainda demoravam uma ou duas semanas para receber as cópias”, lembra. “No interior, os filmes demoravam de cinco a seis meses para chegar, pois tínhamos, no máximo, 60 cópias de 35 milímetros para cada produção”. Em 1988, o Brasil contava com uma média de 1.200 salas de exibição.

“Com a chegada dos multiplex ao Brasil em 1997 – o primeiro foi inaugurado em São José dos Campos – as distribuidoras começaram a rever suas estratégias de lançamento. Além disso, o advento do videocassete obrigou que os filmes chegassem mais rapidamente às telonas”, recorda Paulo. “Com os multiplex, as salas de exibição também passaram a se estruturar melhor, com poltronas mais confortáveis e sistemas de som”.

Quatro anos depois, Indaiatuba ganhava seu primeiro multiplex, com quatro salas no Shopping Jaraguá. “Entre 2003 e 2004, as empresas de exibição começaram a migrar para os shoppings e a inaugurarem seus multiplex. Foi então que as distribuidoras passaram a lançar películas em grande escala, algo entre 120 a 130 cópias”, lembra Paulo, que caminha para o quarto mandato como presidente da Feneec (Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas). “Contudo, as salas de cinema ‘de rua’ ainda somam cerca de 10% do parque de exibição no Brasil”.

Digitalização começou em 2010

Entre os anos de 2010 e 2011, o país começou a se preparar para receber a tecnologia digital. “Na verdade, as conversas tiveram início em 2009, mas a tecnologia era incipiente e caríssima”, comenta Lui. Foi então que surgiu a Digital Cinema Initiatives (DCI), entidade internacional responsável pela gestão do padrão tecnológico de cinema digital. “Os exibidores tiveram que correr atrás e o Brasil foi o último país a aderir ao cinema digital. Aliás, acabamos recentemente de digitalizar toda a praça”, revela.

Para que a digitalização fosse possível, Ancine (Agência Nacional do Cinema), distribuidores e exibidores passaram a se reunir para chegar a um modelo de negócio, o VCF (Virtual Print Fee, algo como taxa de cópia virtual). “O custo para uma parte da praça era muito alta, cerca de 80 a 100 mil dólares por projetor. Como não havia mais cópia em filme, cabe a distribuidora repassar a taxa para ajudar o exibidor a monetizar seu investimento”, explica Paulo. “Este valor é o equivalente à produção do filme em película, que não existe mais. O recolhimento do VCF começou em julho de 2015 e a previsão é de que, em sete anos, finalizamos o processo de digitalização da praça de exibição no Brasil”.

Paulo afirma que o modelo de negócio foi essencial para que grande parte dos exibidores, principalmente os pequenos e médios, não fechassem suas portas. “Estimamos que 90% não possuía capital para executar esta mudança, que contou ainda com o apoio da Ancine, que aportou dinheiro do Fundo Setorial do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)”, explica. “Para controlar tudo isso foi criada a figura do integrador, que adquiriu 1.200 projetores com esta verba. Cabe então ao exibidor pagar a ele o empréstimo com o VCF, que é devolvido ao governo federal”.

O Brasil conta atualmente com 3.150 salas, todas digitalizadas. “O filme era mecânico e a película se desgastava. Esta era acabou e era preciso se adequar. Hoje não enfrentamos mais estes problemas”, lembra Lui, que destaca: o atual sistema não é livre de falhas. “Um computador comanda todo o sistema e podem surgir outros problemas, entre elas a falta de energia. Mas em termos de projeção, ela é muito mais clara, limpa e com um som acima da média”.

Tecnologia é um dos diferenciais

Entretanto, ressalta Paulo, a tecnologia de projeção não é suficiente. “São necessárias poltronas confortáveis, projeção e som de qualidade e um atendimento diferenciado ao público. Sem estes detalhes, de nada adianta a tecnologia”, aponta. “Nosso relacionamento com o cliente é reconhecido até mesmo pelos grandes exibidores”.

A bomboniere também trouxe novidades. “Hoje oferecemos combos temáticos e itens colecionáveis. Mas este mercado ainda cresce no Brasil”, conta Paulo. Uma tecnologia, em especial, ainda representa uma incógnita para o mercado. “O 3D começou bem, principalmente com Avatar, mas logo tiveram início as conversões, que não são exatamente satisfatórias”, revela. “Em minha opinião, devíamos ter de seis a oito filmes em 3D por ano, que ofereçam uma experiência realmente diferenciada”.

Ainda falando em tecnologia, atualmente o Topázio Cinemas recebe os filmes via satélite, que ficam armazenados em um servidor e cujas exibições são liberadas mediante senha. “É um sistema mais rápido e seguro. Nada mais é físico. Em Indaiatuba, os shoppings Polo e Jaraguá contam com o sistema via satélite”. Outra novidade é o aplicativo para smartphones, que permitem conferir a programação e adquirir o seu ingresso pela internet.

Sobre os canais de streaming, que vem crescendo exponencialmente e apostando em produções originais de alta qualidade, Paulo é enfático. “Mesmo que a janela entre a chegada do filme aos cinemas e seu lançamento nos provedores via streaming seja encurtada, acredito que o cinema sempre será diferenciado, com seu som imersivo e uma experiência melhorada. No entanto, é preciso ressaltar que o cinema precisa contar boas histórias. É isso que o público espera”.

Para encerrar, Paulo lembra que a mais recente novidade é o advento das Salas VIP, que agregam diversos outros serviços. “Disseram que a televisão acabaria com o cinema. Depois, foi a vez do videocassete e do DVD. Hoje, são os VoD (vídeo on demand). E o cinema continua de pé, reunindo e encantando o público como na sua primeira exibição”.

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