Nostalgia | Toxicity, do System Of a Down, completa 15 anos

A capa do segundo álbum do System Of a Down, 'Toxicity'
A capa do segundo álbum do System Of a Down, ‘Toxicity

 

Os integrantes do System Of a Down nasceram nos EUA, mas têm pais armênios – dos seus quatro componentes, um nasceu lá, outros dois são libaneses e um norte-americano, mas todos filhos e descendentes de cidadãos da Armênia. E essa raiz oriental nunca foi deixada de lado por eles, que viram na formação da banda mais um motivo para manter acesa e forte a lembrança pela terra de seus familiares.

Sempre tiveram suas letras galgadas em criticas sociais, mas um ponto em especifico chamou a atenção: sempre foram militantes em prol do reconhecimento do Genocídio Armênio. A tragédia do início do século XX (mais especificamente entre os anos 1925 e 1923), feita sob a tutela do governo Otomano, tirou a vida de mais de 1,5 milhão de habitantes do país do Leste Europeu. Mas o problema atual reside no fato do governo da Turquia (antigo Império Otomano) não reconhecer que houve esse massacre, sendo inclusive determinado crime contra a nação turca mencionar esse fato no país.

O mundo em si nunca deu muita bola para essa tragédia – muito, em parte por ter ocorrido de maneira paralela à outro fato terrível de nossa história recente: a Primeira Guerra Mundial. E aí entra o SOAD (System Of a Down), cutucando essa ferida de maneira incisiva.

Agora, some tudo isso ao maior atentado terrorista da história americana – o ataque ás torres gêmeas do World Trade Center naquele fatídico 11 de setembro de 2011 – e você tem o contexto em que o mundo viu o segundo CD dos caras, e que gerou uma grande polêmica.

 

O System Of a Down, da esquerda para a direita: John Dolmayan, Daron Malakian, Shavo Odadjian e Serj Tankian.
O System Of a Down, da esquerda para a direita: John Dolmayan, Daron Malakian, Shavo Odadjian e Serj Tankian.

 

Exatamente uma semana antes do 11/9, no dia 4 de Setembro de 2011, o System Of a Down lançou seu Toxicity – um trocadilho que brincava tanto com as palavras “Toxic” e “City”, quanto com “Toxicity” mesmo, que era algo como “toxicidade”. E você pode imaginar como foi a recepção, uma semana depois e com toda a paranoia que surgiu e se instaurou nos EUA, que quatro jovens descendentes e/ou imigrantes que teciam ácidas criticas ao american way of life, pedindo o reconhecimento de um massacre sofrido por seu povo. Sim, o FBI passou a monitorar os rapazes.

E mais uma triste coincidência surgiu para manter a polícia do mundo de olho na banda: na época dos atentados terroristas, o single de maior sucesso do álbum, Chop Suey, estava a todo vapor nas rádios – e justamente esta canção faz alusão à suicídio, causas religiosas, entre outras. Aí, pra associar os armênios barbudos aos aliados de Osama Bin Laden, foi um pulo.

 

 

Mas toda essa polêmica à parte, o SOAD lançou um álbum que, inegavelmente, está entre os maiores dos últimos anos. Seja na questão de sucesso comercial (foram mais de 12 milhões de cópias vendidas pelo mundo), seja na influência que ele gerou às bandas da época – vale lembrar que estávamos no auge do new-metal, e dentre as centenas de bandas que se copiavam à exaustão, o System Of a Down surgiu como uma brisa fresca de inovação, caindo de paraquedas em um rótulo que afastou a banda de quem era averso ao rótulo.

Apostando em riffs ora pesados e ora melódicos de Daron Malakian, aliados à cozinha mais do que precisa de Shavo Odadjian no baixo e John Dolmayan na bateria, os vocais malucos e extremamente singulares de Serj Tankian davam voz a uma música única: haviam pitadas de thrash metal, de rock alternativo, de Faith No More, de hardcore, de música tradicional da Armênia, e de muita liberdade criativa nesse caldeirão que era o SOAD. E o Toxicity é apontado por boa parte da critica especializada como o auge disso tudo na carreira deles.

Desde os acordes iniciais de Prison Song, música que abre o CD, até o final da última canção, Aerials, fica claro que eles não queria seguir muito uma formula já existente – embora sigam bem a sua própria fórmula: você reconhece o que é uma canção do System Of a Down. Vale ressaltar, é claro, a ótima produção do disco – produto das mãos dos próprios Serj Tankian e Daron Malakian, além do toque de midas do mais que experiente Rick Rubin, que já trabalhou com ninguém menos que Metallica, Black Sabbath, Red Hot Chili Peppers, Slayer, Linkin Park, Eminem e Adele.

É difícil numerar destaques em um álbum tão coeso. Mas não dá pra não deixar de citar a própria Prison Song, Chop Suey e Toxicity, que foram singles, a grudante Deer Dance, as pesadíssimas Jet Pilot e Shimmy, o quase hardcore de Science, além da canção que encerra com maestria o setlist, Aerials, que tal qual diz sua letra, é quase uma cachoeira musical. Ou seja: citei quase o álbum todo.

Ainda na seara musical vale a pena citar mais uma vez o grande trabalho individual dos músicos: no meu caso, especialmente, chamaram a atenção a precisão metronômica do baterista John Dolmayan, e a peculiaridade vocal de Serj Tankian. O primeiro soa quase como um relógio, seja nos momentos mais retos ou em momentos mais quebrados – breakdowns, mudanças de ritmo, sempre muito bem regidas. Já o segundo emprega em sua forma de cantar influências diversas: pense num Mike Patton (Faith No More) com um sotaque carregadíssimo. A versatilidade do músico fica claro já na primeira canção, em que ele mescla urros característicos de estilos mais extremos do heavy metal com sonorizações mais calmas – tudo temperado pela maneira peculiar com que ele pronuncia o inglês, o que só torna a audição do trabalho todo ainda mais saborosa.

 

 

Toxicity foi o álbum que tornou o System Of a Down grande de fato. Foram número um na Billboard americana, conseguiram premiações diversas pelo globo, seus três videoclipes (dois apresentados durante o texto, além da faixa título do álbum, que você pode conferir aqui) foram sucesso absoluto na MTV – inclusive aqui no Brasil, que foi por onde eu conheci a banda, alguns anos mais tarde. Deixaram de ser a banda de abertura em pequenos clubes e passaram a excursionar pelo globo ao lado dos maiores nomes da música mundial – tendo, inclusive, passado duas vezes aqui no Brasil, onde tive a oportunidade de vê-los em 2011.

Depois desse, vieram mais três álbuns nos anos seguintes. E aí veio um hiato a partir de 2006, que é quebrado de vez em quando para que eles excursionem apresentando seus sucessos para o público – e para o seu próprio povo em 2015. Hoje em dia, rumores acerca da produção de um novo álbum rondam a banda.

Acho que o System Of a Down sempre foi uma banda que tinha o que dizer – fosse musicalmente, fosse pelo seu conteúdo. Ao menos para este que vos escreve, sempre disseram – é uma banda que me acompanha até hoje, e que me traz um sentimento nostálgico, de rebeldia, que acredito ter sido o intuito deles desde sempre. É sempre um prazer recomendar o som deles – prazer que se acentua ao imaginar que, de uma maneira ou de outra, a música vai sempre ter esse poder conosco. E que ela continue fluindo, pois parafraseando o próprio SOAD, a vida é uma cachoeira, nós somos um no rio, e ainda continuamos um após a queda.

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