Review | A Comédia Divina

Machado de Assis, um dos maiores escritores brasileiros, escreveu o conto A Igreja do Diabo, um texto extremamente rico em diálogos envolventes e repleto de argumentos entre Deus e o Diabo, mas com suas limitações por ser um conto. Uma adaptação deste texto não faria mal, desde que bem feita. Infelizmente, esse não é o caso de A Comédia Divina.

O filme tem a mesma ideia do conto de Machado de Assis: relatar a história da fundação da Igreja do Diabo na Terra. O Diabo (Murilo Rosa, de A Menina Índigo), sofrendo com seu marketing e vendo a fé cristã aumentando cada vez mais, decide fundar uma Igreja e atrair fiéis. O que parecia ser uma ideia genial, já que bateria de frente com a própria ideia do Cristianismo, começa muito bem, mas de boas intenções o inferno está cheio.

Dirigido por Toni Venturi (Cabra-Cega) e com roteiro escrito por José Roberto Torero (Memórias Póstumas de Brás Cubas), o filme erra feio em tudo. O título já diz ao que o filme veio: tentar ser uma comédia, mas seu ar de programa humorístico global com piadinhas infames e fora de tom não funciona em nenhum momento. As atuações de Monica Iozzi, Murilo Rosa, Zezé Motta, Dalton Vigh e Thiago Mendonça parecem ter sido feitas em apenas um take e o diretor achou que já estava bom, mecânicos e sem sintonia alguma.

Acharam espaço até para forçar romance na história, algo tipicamente novelesco, e que claramente fica piegas e descolado da trama principal. Os efeitos visuais são um horror à parte, nem mesmo filmes da década de 50, com pouca estrutura, rendiam trabalhos tão porcos.

Ora, se havia a falta de dinheiro da produção e o intuito era investir em algo maior, faça o simples, mas bem feito, assuma suas limitações. Não dá para entender qual a ideia de se tentar fazer comédia com um texto que não tem nada de abobalhado, muito pelo contrário.

Esse é o grande problema da Globo Filmes: insistir em comédias genéricas e desgastadas, enquanto o nosso cinema precisa de muito mais que isso. Temos uma literatura vasta, mas infelizmente nosso cinema não se “aproveita” disso. O que isso significa? Que ainda estamos longe de chegar à altura de adaptar nossos livros com a dignidade que merecem.

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