Review | Extraordinário

Alguns anos atrás, a palavra bullying teve seu status alterado, passando de um termo desconhecido para uma das mais temidas e geradoras de debates em diversos meios da sociedade. O ambiente onde o bullying se mostrou mais presente foi o educacional, isso porque geralmente as maiores vítimas são estudantes, com pouca idade, que muitas vezes lidam sozinhos com manifestações cruéis vindas de colegas da mesma sala e de adultos.

Para dar voz a essas vítimas, o assunto vai ganhando cada vez mais destaque. Mestres da educação debatem diariamente esta questão. Professores precisaram rever seus métodos para saber como lidar com este problema. Pais passaram a ouvir seus filhos e dedicar mais tempo a eles.

Na realidade ou na ficção, o tema vem ganhando destaque. Produções na televisão abordam a questão, assim como matérias jornalísticas são cada vez mais frequentes. O cinema não fica atrás e cumpre sua cota com produções sobre o tema. Os livros também abordam a questão e conseguem imediatamente uma conexão com os jovens.

Entre os livros que lidam o tema, destaca-se Extraordinário, best-seller de R. J. Palacio, lançado em 2012, que aborda a temática difícil e polêmica de uma forma afetuosa, lúdica, emotiva e divertida, sem tirar a importância da denúncia ou transformar a abordagem num conto de fadas.

Adaptado agora para as telas, Extraordinário mantém a essência da obra original e deve ajudar no debate da questão que ainda promove conversas calorosas, devido a novas descobertas e relatos sobre o tema. Deve apoiar também a campanha antibullying criada pela autora na época do lançamento do livro e presente até hoje com a participação cada vez maior de jovens que se identificam com a questão e encontram assim uma maneira de lidar com os terríveis acontecimentos.

Para quem não conhece a obra, Extraordinário apresenta a história de August Pullman, ou somente Auggie (Jacob Tremblay), um garoto de 10 anos que nasceu com uma síndrome genética cuja sequela o deixou com uma deformidade facial. Auggie nunca frequentou a escola, sendo educado pela mãe Isabel (Julia Roberts, de Comer, Rezar, Amar) em casa. Agora, prestes a iniciar o quinto ano em um colégio popular, Auggie terá que lidar com outras crianças e mostrar que apesar de sua aparência incomum, ele é um menino igual aos outros.

Extraordinário já começa acertando, pois tem no comando o diretor Stephen Chbosky, responsável por As Vantagens de Ser Invisível (2012), que traz uma temática semelhante. Os dois filmes precisam de pessoas sensíveis para tratar de forma natural questões tão difíceis que geram dor em muita gente. Em Extraordinário, o diretor consegue mais uma vez imprimir um tom delicado e emocional, aliviando certas cenas, sem prejudicar a importância da mensagem que o filme passa. Bastante fiel a obra original – mas não ficando preso a ela – o roteiro capricha na construção dos fatos e Stephen capricha nas imagens, principalmente na inserção da ludicidade – Star Wars tem uma importância imensa nessa prática. O diretor cai, uma vez ou outra, na armadilha de querer arrancar lágrimas forçadas da plateia, mas não faz disso seu ofício, o que vemos em cena é bastante sincero.

Na pele e dor de Auggie, encontra-se o ator prodígio Jacob Tremblay.  Revelado no perturbador O Quarto de Jack (2015), o jovem revela-se uma escolha mais do que acertada para contar de uma forma verdadeira toda a história de aceitação do personagem. Jacob é um daqueles atores que hipnotizam em cena, e mesmo aos 11 anos e embaixo de muita maquiagem, consegue ser melhor que muitos adultos. Um Oscar para ele é questão de tempo.

Elenco

Mas Jacob não brilha sozinho. Em meio a história de seu personagem, o filme vai buscar e compartilhar também as dúvidas, as descobertas e a aceitação de outros personagens. Surgem então crianças igualmente excelentes em cena. Noah Jupe, na pele do amigo de Auggie, Jack Will, é de uma sensibilidade tão grande que dá vontade de ver um filme só dele. Izabela Vidovic surge como a irmã do protagonista. Sua personagem Via divide com a plateia a dificuldade de se conviver com alguém diferente, tendo que abrir mão muitas vezes da atenção dos pais, num momento também muito difícil para ela, já que em plena adolescência também precisa de ajuda para encarar e entender as mudanças pelas quais está passando. Izabela divide ainda divide uma rápida e emocionante cena com Sonia Braga, que interpreta sua avó.

Mas não é só de crianças excepcionais que o filme conta. Julia Roberts e Owen Wilson também se destacam na produção. Owen é Nate, pai de Auggie, que assim como todo pai parece ser a parte divertida de uma família. Divide com o filho momentos de diversão, envolvendo videogames e conselhos poucos ortodoxos. Alivia bastante o filme com suas piadas. Já Julia aparece para ser o lado afetivo e emocional. Sua personagem Isabel é uma mulher madura que precisou abdicar da carreira para cuidar integralmente do filho. Se a personagem pede para que as crianças sejam gentis com seu filho, nós concordamos e compartilhamos seu desejo. Julia surge em cena numa delicadeza e vulnerabilidade que gera empatia imediata da plateia com a personagem. As lágrimas, os sorrisos, todos são evocados no momento certo. Julia e Jacob têm grandes momentos e diálogos bastante inspiradores. Isabel já é uma das mães mais queridas do cinema.

Destaque ainda para a importante figura do professor (Daveed Diggs) e do diretor (Mandy Patinkin) que na história, assim como na vida, tem um importante papel na formação e na educação das crianças. Numa época onde as crianças ficam cada vez mais tempo dentro de escolas, o papel do professor vai aumentando, se tornando indispensável para a condução e resolução de problemas.

O tema de Extraordinário é universal, por isso agradará toda a família. Numa época onde se fala tanto em diversidade e aceitação, a mensagem do filme é bem clara e eficaz. Somos todos capazes de amar e aceitar o próximo da maneira que eles são, basta ser gentil, respeitar as diferenças e ver que somos todos iguais. É isso que nos torna extraordinários.

* O NERD INTERIOR conferiu o filme em pré-estreia no Topázio Cinemas de Indaiatuba.

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