Review | 13 Reasons Why

Muita gente, quando soube da produção de 13 Reasons Why, torceu o nariz acreditando que a série teria como público-alvo os adolescentes. Muita gente, inclusive, acha isso até hoje. Mas a produção original da Netflix, que estreou no dia 31 de março no serviço de streaming, não é uma série para qualquer um. Adaptada de um best-seller young adult de mesmo nome, escrito por Jay Asher e publicado em 2007, a série é produzida por Tom McCarthy (vencedor do Oscar por Spotlight: Segredos Revelados) e pela cantora Selena Gomez e conta ainda com roteiro do vencedor de um Pulitzer, Brian Yorke.

13 Reasons Why narra a história de Hannah Baker (Katherine Langford), uma típica adolescente de 17 anos do ensino médio americano e os 13 motivos que a levaram a cometer suicídio. Duas semanas depois da tragédia, seu amigo de colégio, Clay Jensen (Dylan Minnete, de Os Suspeitos) encontra na porta de sua casa uma caixa de sapato com 13 fitas gravadas por Hannah, onde ela conta os 13 motivos que contribuíram para a decisão de tirar a própria vida.

Parece com uma série que tem todo o potencial para ser um verdadeiro dramalhão, não é mesmo? Mas foge disso com maestria, oscilando momentos de humor, mas sempre se apoiando em contar sua história como se fosse um thriller de suspense. Você se questiona, a todo momento, o que tal personagem fez para a protagonista que culminou no desfecho já conhecido. A cada capítulo que passa, é cada vez mais incessante a vontade de saber o que Clay fez a Hannah, algo que é semeado desde os primeiros episódios.

13 Reasons Why, apesar de ser uma série com temática adolescente, aborda de maneira adulta temas delicados como, suicídio (claro), bullying, assédio sexual, depressão, machismo, feminismo e até mesmo, estupro. Inclusive, com cenas cruas e que estão ali com um propósito: chocar. Afinal, essa é a intenção da série. Chocar para refletir.

Com sua história desenvolvida em duas linhas de tempo diferentes, a série utiliza bons artifícios para não confundir quem assiste. Como acompanhamos, durante grande parte da história, o dia de Clay, um machucado na testa é o suficiente para mostrar ao espectador se estamos vendo o presente ou o passado, quando Hannah ainda era viva. Além disso, a câmera é mais fria no presente, com tons de azul e cinza, enquanto o passado é retratado com cores quentes, de amarelo e vermelho.

13 Reasons Why acerta também na representação de uma pessoa, ou no caso, jovem, que está em uma luta constante contra a depressão. Ao contrário do que muita gente pode pensar, mesmo passando por tudo que passou, Hannah não é a personificação da tristeza. São inúmeras cenas que mostram uma personagem carismática e bem humorada, tentando lutar com seus conflitos da melhor forma possível.

Luta esta que mostra a tênue linha entre a brincadeira e a agressão, física ou psicológica. Enquanto assistimos, não é difícil pensarmos “Mas que frescura dessa menina!” nos casos em que, em um primeiro momento, podemos julgar “menos graves”. Pensamento que a série trata logo de jogar na nossa cara o quão errado é quando percebemos que não é apenas fazendo algo errado que podemos magoar alguém, mas também deixando de fazer algo certo.

Das atuações, Katherine Langford, praticamente uma novata, entrega uma Hannah que mostra nas sutilezas do seu comportamento a montanha russa de emoções vividas pela protagonista e Minnete dá vida a um Clay que explode de todas as formas na medida em que vai descobrindo os motivos para o suicídio de Hannah, por quem nutria uma paixão platônica. Além da dupla de protagonistas, Kate Walsh (As Vantagens de Ser Invisível), que interpreta a mãe de Hannah, é muito competente em retratar a amargura de uma mãe na busca pela verdade e justiça.

No entanto, 13 Reasons Why escorrega na apresentação e representatividade de alguns personagens na trama. Como é o exemplo de Skye, interpretada por Sosie Bacon (da série Pânico). A personagem entra na narrativa abruptamente e a história acaba dando um papel mais importante para ela do que é realmente mostrado em tela. A série erra também no ritmo de alguns episódios, que são morosos e parecem reciclar assuntos já abordados em outros episódios. No entanto, ao menos, não apela para ganchos mirabolantes ao final de cada um deles e instiga o espectador a continuar assistindo pela sua história e debate que incita.

Forte e impactante, a mensagem transmitida em 13 Reasons Why não é apenas para jovens, mas também para os adultos, que ainda podem se achar imunes aos assuntos debatidos na série. Mas não deveriam.

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