Review | Linkin Park – One More Light

O Linkin Park conseguiu o ódio de muita gente em sua carreira: de um lado, os que os odiavam por pertencer ao movimento new metal, aliando rap às guitarras distorcidas e vocais gritados; do outro lado os fãs, justamente por conta dessas características (presentes, especialmente, nos dois primeiros álbuns da banda), e que hoje em dia acusam a banda de N coisas por ter deixado para trás essa sonoridade e ter buscado fazer mais experimentações e flertes com a música eletrônica, posteriormente.

O último CD da banda, The Hunting Party de 2014, pareceu ser um alento para a segunda categoria de odiadores da banda: voltaram as guitarras pesadas, ainda quem numa sonoridade distante àquela praticada no início dos anos 2000, e o futuro parecia brilhante para essa parcela de fãs. Mas chegou 2017, o anúncio de um novo álbum voltado ao pop, e os primeiros singles, e toda aquela esperança foi por água abaixo.

Mas tendo plena consciência de que a banda não queria mais se prender a uma sonoridade específica, em especial aquela dos álbuns Hybrid Theory e Meteora, fica sempre o ponto positivo à bandas que buscam evoluir e experimentar caminhos diferentes. Mas esse não foi o caso do Linkin Park nesse sétimo disco de inéditas, One More Light, que foi lançado na última sexta-feira, 19.

Quando disseram que iriam fazer um CD voltado mais para o pop, eles realmente não mentiram: o que vemos aqui é uma banda que em momento nenhum soa como rock. Desde a produção à mixagem que esconde totalmente as guitarras, passando pelos timbres dos instrumentos e texturas das batidas eletrônicas (predominantes no trabalho todo), até o uso excessivo daquelas irritantes vozes de criancinhas/monstrinhos durante algumas canções, esse álbum foi todo feito para um grupo de música pop, dessas que permeiam as rádios FM hoje em dia – Imagine Dragons, Twenty One Pilots, etc.

Essa entrega completa ao pop não seria um problema se o mesmo fosse um pouco mais trabalhado – as camadas sonoras soam simplistas em alguns momentos, os arranjos são minimalistas sem serem variados, as batidas soam bem similares umas às outras, e a estrutura verso-refrão-verso dá o tom da setlist toda. Não acredita? Ouça Battle Simphony, Invisible, Sorry For Now e a country/folk deslocada Sharp Edges.

Inegavelmente há canções que grudam na sua cabeça tal qual grandes canções pop deveriam fazer, como por exemplo Heavy, Nobody Can Save Me e Talking To Myself, onde há algumas guitarras, e talvez seja a preferida dos mais saudosistas por ecoar levemente algo do “antigo” Linkin Park. Mas fica sempre aquela sensação de que as canções não tiveram um esmero maior, ainda mais se levando em consideração que a banda é composta de seis integrantes – coisa que na maioria das canções parece se resumir apenas ao DJ Hahn e ao vocalista principal Chester Bennington – o trabalho rítmico do baterista Rob Bourdon aparece bastante também, mas fica em segundo plano com timbres que emulam batidas eletrônicas o tempo todo.

Para destacar uma qualidade do álbum, vale mais uma vez falar de Chester: tanto ele, quanto o segundo vocalista da banda, Mike Shinoda, fazem aqui um belo trabalho. Shinoda, inclusive, canta muito bem neste álbum, deixando um pouco mais de lado a verve spoken word/rapper que tanto usou durante a carreira. Ponto positivo pros dois que, mesmo deixando de lado os vocais mais rasgados de outrora, souberam imprimir suas características vocais para as canções.

Os dois inclusive são responsáveis pelas letras do álbum, que tratam de temas quase que recorrentes à banda, mas que soam bem encaixados na temática. Fica o destaque para a forte One More Light, melhor do álbum, que tratando de perdas teve uma interpretação recente ao vivo tão emocionante quanto merece pela banda, ainda abalada pela perda do grande amigo Chris Cornell.

Então fica mais uma vez um gosto amargo nos ouvidos de quem ouve esse álbum – seja por parte dos saudosistas, que presos ao passado, nunca poderão ver a evolução da banda e acorrentados à uma época que a própria banda não tem interesse em revisitar, vão padecer a espera de uma cópia de algo já lançado; ou seja por parte de quem só gostaria de acompanhar algo bom vindo de uma banda que se propôs a não se estagnar, mas que pareceu ter medo de realmente andar por caminhos verdadeiramente diferentes.

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Alexandre Fernandes

Pai do Yuri Rafael, sou só um cara de meia idade que reclama bastante, mas não ao ponto de perder o bom humor. Nostalgia é meu sobrenome, e sim: gosto muito de cultura pop, filmes, séries, música, animes e mangás, videogames e tudo isso aí que faz um nerd. Mas não sou nerd, eu juro.

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2Comentários

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  1. 1
    OdranoeL

    Ótima resenha, a melhor que li aqui no Brasil, eu daria 7 para o disco, pois eles quiseram fazer um disco o mais simplista-minimalista possível, pecou como você falou na variação dessa simplicidade buscada, mas ainda sim leva um ponto positivo ao meu ver da banda sempre buscar fazer algo diferente, e os detratores sempre vão tentar acabar com a banda, dessa vez eles tem combustível potente, quase do mesmo nível do ATS, que acho um disco excelente.

    • 2
      Alexandre Fernandes

      Obrigado por ler e compartilhar sua opinião conosco, amigo!
      Quanto ao disco – eu acho que só dei a nota 4 pq também acho válida e muito necessária essa iniciativa de sair do lugar comum que o LP fez aqui, e que muitas bandas pecam por não fazer. Mas é aquilo em que concordamos: falto um algo a mais nessa jornada. Que sirva de “aprendizado” pro próximo álbum.

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