Review | Meu Amigo, o Dragão

A iniciativa da Disney de fazer releituras de produções antigas – como Malévola e Mogli – acaba de ganhar uma nova produção: Meu Amigo, o Dragão, um clássico de 1977 que reunia atores de carne e osso com um dragão de desenho animado. Tinha no elenco veteranos como Mickey Rooney, Shelley Winters e Red Buttons e era uma aposta do estúdio para ser um novo Mary Poppins. Não foi, e só ganhou o status de “clássico” quando lançado em home vídeo poucos anos depois. Aliás, foi o primeiro filme da Disney a ir para o formato videocassete.

Na trama, um garoto perde os pais em um acidente de carro na floresta, é encontrado e criado por um dragão. Seis anos depois, é encontrado e levado de volta ao convívio com as pessoas, que não estão preparadas para a presença de um monstro mitológico.

O original era ambientado na década de 20 do século XX, e este se passa na época em que o primeiro Meu Amigo, o Dragão chegou à telona, ou seja, os anos 70. Isso ajuda no clima nostálgico, em tempos em que crianças ainda liam livros ilustrados, não eram viciados em videogames e WhatsApp e todos tinham que ver o dragão com os próprios olhos, e não apenas em vídeos na Internet, para acreditar. Também o antagonista ser um madeireiro e caçador que reclama para si a propriedade do bicho aprisionado não funcionaria nos dias atuais. Eram dias mais simples, ainda que incorretos.

A concepção do dragão Elliot é um caso à parte. Como desenho animado, ele se inspirava nos dragões chineses, que eram vistos como bons, enquanto os europeus eram maus. O desta produção é nitidamente um cachorro com asas, muito parecido com o de outro clássico juvenil do passado, A História Sem Fim. Com seu pêlo sedoso e seus olhos expressivos, faz com que a plateia imediatamente tenha empatia com ele, como um totó gigante.

Bryce Dallas Howard está na floresta e não consegue enxergar o monstro que está à sua frente. Não, não é A Vila, mas é irresistível lembrar de seu trabalho de estreia, quando tanto esperávamos dela e ela acabou nos dando tão pouco. Em todo o caso, sua capacidade de chorar com um só olho – como Benício Del Toro no comercial de cerveja – é muito útil em sua interpretação de mãe substituta do menino Pete (Oakley Fegley, que já fez Boardwalk Empire e Pessoa de Interesse). Já o elenco de estrelas da Era de Ouro de Hollywood do filme anterior é substituída por apenas Robert Redford, que ultimamente fez até filme de super-herói. Envelhecer é triste.

Bryce Dallas Howard e Oakley Fegley em cena do remake

Karl Urban é o vilão madeireiro e caçador a que me referi antes e Wes Bentley, com a mesma barba de Jogos Vorazes, é seu irmão, namorado de Bryce e pai da menina Natalie (Oona Lawrence, de Perfeita é a Mãe), que vai se tornar amiga de Pete. Ninguém explica o que aconteceu com a mãe, já que Bryce nem madrasta é ainda.

No geral, o filme é bem feitinho, com um roteiro amarrado e com atuações adequadas. Mas o clima nostálgico pode não agradar ao público-alvo. Lembra até de certa forma Stranger Things com a diferença que o seriado da Netflix quer conversar com quem viveu os anos 80, e esta produção Disney quer conquistar seu público de sempre: crianças. Depois de ver a explosão de cores e movimento que é o trailer de Trolls, da Dreamworks, é de se indagar se os dois produtos têm o mesmo destinatário.

Robert Redford é um guardião da lenda

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