Review | The Crown

Se Stranger Things foi a sensação do ano da Netflix, a empresa on demand também trouxe outras novidades em 2016. Uma das mais premiadas foi The Crown, ganhadora dos Globo de Ouro de Série Dramática e Atriz, para a protagonista Claire Foy, que ainda levou o SAG Awards junto com seu colega de elenco John Lithgow. Ela interpreta uma jovem rainha Elizabeth II e ele, o primeiro-ministro Winston Churchill.

O seriado conta a história da soberana a partir de seu casamento com Phillip (Matt Smith, um dos Doctor Who deste século e ponto fraco do ótimo elenco), um oficial da marinha que vem das famílias reais da Grécia e da Dinamarca. Com a doença e morte repentina do pai, George VI (Jared Harris, o Moriarty de Sherlock Holmes: O Jogo das Sombras), ainda muito jovem ela tem que assumir o trono da Inglaterra, e para isso terá a tutela do grande Churchill, o maior estadista europeu do século XX. O respeitado Lithgow dá peso ao papel, mas não necessariamente constrói um retrato convincente do grande personagem histórico, mesmo em seus anos de ocaso.

Criado por Peter Logan (que também escreveu A Rainha), produzido e dirigido – em alguns episódios – por Stephen Daldry (As Horas), The Crown é excepcionalmente bem escrito, dirigido, produzido e interpretado, mas é uma enorme justificativa da monarquia britânica e apologia do reinado de Elizabeth, a Segunda. É praticamente um prequel de A Rainha e continuação de O Discurso do Rei. Como neste último, a abdicação de Edward VII é o ponto de referência do comportamento de seus sucessores. O Duque de Windsor – interpretado por Alex Jennings (que curiosamente foi o príncipe Charles em A Rainha) – é visto como um romântico irresponsável, que, por fora, despreza seus parentes e compatriotas mas que, no fundo, se arrepende por perder o reino. Sua renúncia ao trono para se casar com a americana divorciada Wallis Simpson abalou os alicerces da monarquia, numa época em que diversos países europeus estavam depondo seus reis. Isso é usado como justificativa para algumas das mais famosas e impopulares posições de Elizabeth, como a não permissão para que sua irmã Margareth se casasse com o oficial divorciado Peter Townsend.

O ar distante da Elizabeth real é justificado como uma noblesse obligé – uma necessidade do cargo. Por outro lado, a rainha de Claire Foy é mostrada dando sermão em Winston Churchill e se sacrificando em uma longa viagem pelos países do Commonwealth para preservar a dignidade do Reino Unido. De fato, em seu longo reinado, ela assistiu a Grã-Bretanha decair de sua posição de Metrópole do Império onde o Sol nunca se punha a produtor de referências da cultura pop, como ficou demonstrado na abertura dos Jogos Olímpicos de 2012, quando Elizabeth não se furtou a participar junto com James Bond. Com sua vida chegando ao fim, e com as dúvidas a respeito de seu herdeiro presumido, o impopular Charles, nada como um programa feito para mostrar que o termo “rainha da Inglaterra”, cunhado para identificar quem tem uma função meramente decorativa, é uma injustiça.

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