Review | Um Tio Quase Perfeito

Depois de servir de coadjuvante para outros comediantes e roubar a cena em vários filmes e programas de televisão, Marcus Majella agora encara o desafio de viver seu primeiro protagonista nas telonas. Mas ao invés de seguir pelo caminho mais óbvio e garantir milhões de espectadores, Majella passa bem longe de seu mais famoso personagem, o irreverente Ferdinando, que no canal Multishow já estrela dois programas: Vai Que Cola e Ferdinando Show. Em Um Tio Quase Perfeito, revela outra faceta de seu talento e consagra-se como um dos mais promissores comediantes da atualidade.

No filme dirigido por Pedro Antonio, o mesmo de Tô Ryca, a trama gira em torno de Tony (Majella), um trambiqueiro que, junto com a mãe (Ana Lucia Torres), acaba tendo que passar uma temporada na casa da irmã (Letícia Isnard), onde recebe a missão de cuidar dos três sobrinhos: Patrícia (Jullia Svacinna), João (João Barreto) e Valentina (Sofia Barros). Aí é que começa uma série de confusões e descobertas envolvendo a família.

Na véspera das férias escolares, Um Tio Quase Perfeito surge como uma alternativa para reunir a criançada no cinema. Diferentemente de uma comédia escancarada – muito em alta na atual cinematografia nacional – este filme é feito para a família, pois foge de palavrões, nudez ou qualquer outro elemento que possa constranger pais e filhos. O filme tem a preocupação em não ser um pastelão e as histórias são contadas de forma leve, com muitas referências e piadas que servem tanto para crianças, quanto para os fãs do humor mais ácido de Majella. O roteiro, assinado por Leandro Muniz, Sabrina Garcia e Rodrigo Goulart, vai pelo caminho mais previsível possível, beirando a ingenuidade. Todas as situações existem para a intervenção do tio e sua inevitável redenção e aceitação na família.

É mesmo no humor de Majella que o filme encontra seu caminho. Nas cenas envolvendo seus golpes, as situações são divertidas, mas é no contato especial com as crianças que o ator se destaca. A relação entre tio e sobrinhos começa ácida e divertida, e vai amolecendo aos poucos. O filme ganha um tom emocional, mas sem se esquecer da graça. Talvez derrape na desnecessária e exagerada intervenção de bandidos na vida de Tony, que aparecem para lhe cobrar uma dívida. A traminha destoa do resto do filme e no fundo não tem a menor importância.

No geral, o filme é engraçado e funciona muito bem, mesmo sem fazer rir o tempo todo, em uma história bem tradicional, que apresenta de Uma Babá Quase Perfeita e até Meu Malvado Favorito. Consegue amarrar bem todas as tramas da família e cria um desfecho emocionante, envolvendo uma peça de teatro infantil que acaba ganhando importância devido a todo simbolismo envolvido.

Retratando a atual família brasileira, onde cada vez mais os pais passam o dia inteiro longe de casa, deixando os filhos em escolas integrais ou sob comando de babás, o filme consegue levantar essa questão, comprovando que nada substitui a presença dos pais na criação dos filhos. Afinal, não são todas as famílias que têm a sorte de ter um tio Tony presente.

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