Review | The Post – A Guerra Secreta

Existe um clima de urgência no novo trabalho do diretor Steven Spielberg. A necessidade de se expressar era tanta que o diretor encurtou a produção da adaptação de Jogador Nº 1 – que estreia em março – para lidar com o tema apresentado nesta produção. Um assunto bastante oportunista e que vem a calhar devido a todo o cenário político que os norte-americanos vêm enfrentando.

Finalizado em sete meses, tempo suficiente para competir na temporada de premiações, The Post – A Guerra Secreta é o filme certo na hora certa. Incomodado com o comando de Donald Trump e com as milhares de bobagens que ele diz e faz, Spielberg foi buscar no passado uma história que envolveu o presidente da época – Richard Nixon – para refletir sobre a atual gestão, que não se limita a intimidar jornalistas e a imprensa.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme, o drama trata dos eventos reais que levaram a publisher Katharine Graham (Meryl Streep, indicada a Melhor Atriz) e o editor Ben Bradlee (Tom Hanks), a publicarem no The Washington Post, documentos secretos do Pentágono, em 1971.

Este é o thriller sobre jornalismo que Spielberg achou mais relevante para apresentar. Abordando a liberdade de imprensa nos anos 70, onde o governo ainda exercia total influência no conteúdo de jornais, a produção sinaliza diretamente com o presente, soando assustadoramente atual.

The Post pode parecer confuso e arrastado no começo, mas Spielberg logo desenvolve o roteiro com uma direção bem elegante. A familiaridade com a história vai aumentando e outros elementos apresentados vão deixando a trama mais acessível. O roteiro é de Liz Hannah e Josh Singer, responsável por outro grande filme jornalístico, Spotlight – Segredos Revelados, vencedor do Oscar. A dupla de roteiristas domina totalmente o tema e apresenta diálogos inspirados e geniais. Personagens dúbios são apresentados e testados até os limites da ética. Com estas características, o filme nos lembra que estamos lidando com o mundo real.

Atrativo

Mesmo que o tema pareça pouco atrativo – o que não é – , o filme possibilita a chance de ver Tom Hanks e Meryl Streep juntos pela primeira vez. Inacreditavelmente, a dupla nunca havia se encontrado nas telas. A química entre os atores é incrível, a cumplicidade e entrega dos dois atores em cena contribui muito para o resultado final.

Dona de 21 indicações ao Oscar e vencedora de três, Streep mais uma vez brilha, nos brindando com uma de suas melhores atuações. O papel cai como uma luva nas mão da atriz, que desenvolve sua personagem com intensidade e maturidade, além de toda imponência exigida. Meryl também leva sua Katherine a situações onde claramente discute-se o papel da mulher em ambientes majoritariamente dominados por homens. Há ares de feminismo também nesta obra. Tom Hanks transmite segurança em sua interpretação, e a dupla protagonista acaba ofuscando os extraordinários coadjuvantes. Bob Odenkirk é um dos poucos que consegue se destacar diante dos protagonistas.

The Post: A Guerra Secreta é um thriller jornalístico bastante tenso e excitante, que conduz a história de uma forma que nos faça lembrar do quanto uma imprensa livre é essencial para se garantir a democracia. Spielberg consegue aqui dar o recado traçando paralelos entre Nixon e Trump. Por fim, o filme deixa uma reflexão bem clara: assim como diz a Primeira Emenda da Constituição norte-americana, a imprensa deve servir aos governados, não aos governantes.

O que são os Pentagon Papers?

The Post – A Guerra Secreta revela a improvável parceria de Katharine Graham (Meryl Streep), editora chefe do The Washington Post, e seu dedicado editor Ben Bradlee (Tom Hanks) enquanto eles correm para alcançar o The New York Times na cobertura de uma enorme manobra de ocultação de segredos do governo americano.

Embora o furo tenha sido do The New York Times, coube ao The Washington Post expandir a cobertura do caso depois que o diário nova-iorquino foi proibido, judicialmente, de manter sua série de matérias que revelaram o estudo altamente secreto que ficaria conhecido no mundo como os Pentagon Papers.

Em março de 1971, o repórter do The New York Times, Neil Sheehan, obteve acesso a um relatório de sete mil páginas repleto de segredos que depunham gravemente contra o governo. O documento, originalmente preparado a pedido do então secretário de defesa dos Estados Unidos, Robert McNamara, em 1967, tinha o prosaico título: “História do processo de tomada de decisões dos Estados Unidos no Vietnã, 1945-66”.

Aparentemente inofensivo, o relatório causou um tremendo impacto que perdura até hoje, ao revelar uma série de mentiras sobre a guerra sangrenta do Vietnã, que havia sido sustentada ao longo dos governos de quatro presidentes: Truman, Eisenhower, Kennedy e Lyndon Johnson. Os Pentagon Papers revelavam que todos haviam enganado repetidamente o público sobre as operações dos Estados Unidos no Vietnã e, mesmo quando o governo dizia que buscava a paz, nos bastidores, as forças armadas e a CIA estavam expandindo a guerra secretamente. Uma história sinistra e com muitas evidências de assassinatos, violações da Convenção de Genebra, eleições fraudadas e mentiras apresentadas ao Congresso.

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