Review | Batman: Cruzado Encapuzado

O projeto Batman: Cruzado Encapuzado reuniu Bruce Timm, criador de Batman: A Série Animada, e Matt Reeves, o diretor do último e do próximo longa do Homem-Morcego. Apesar da dupla, a nave mãe da DC, a Warner Discovery, resolveu esnobar a série, alegando uma mudança de foco na empresa.

Como diria Julia Roberts à vendedora esnobe em Pretty Woman: “big mistake”. Assim, essa ótima produção acabou no catálogo do Prime Video.

Timm havia sido sondado para retomar a saga de The Animated Series, mas ele disse que queria fazer algo novo com o personagem. Após alguma negociação, ganhou passe livre para fazer o que quisesse com o Batman, e sem a obrigação de criar personagens para vender bonecos.

Assim, vemos esta versão do Cruzado Encapuzado em seus primeiros anos de atividade, quando muitos o consideravam uma lenda urbana, assim como em Batman – Ano Um, de Frank Miller e David Mazzuchelli.

O visual é inspirado nas primeiras aventuras, quando ele era mais sinistro e violento. A série tem episódios procedurais – isto é, cada uma com um vilão diferente – e ao mesmo tempo vai construindo a trajetória do promotor Harvey Dent para se tornar o Duas Caras.

Inovação

O episódio 1 já começa com uma inovação polêmica: a versão da Pinguim mulher, também uma líder mafiosa, mas uma mãe abusiva, em contraste com as versões de Batman: O Retorno e a série Gotham, quando é um filho em relações conflituosas com os genitores.

Outros vilões clássicos ganham novas leituras como o Cara de Barro, Mulher-Gato, Vagalume, e alguns mais obscuros, como Cavaleiro Fantasma e Onomatopeia. Mas a melhor recriação é sem dúvida a Arlequina, que se livra de ser um apêndice do Coringa (como o próprio Timm havia concebido para A Série Animada) e ganha protagonismo como a psiquiatra Harley Quinzel, lembrando outro inimigo do Batman, o doutor Hugo Strange.

Também há participações importantes de personagens da vida pública de Gotham, como o comissário James Gordon, sua filha e aqui defensora pública Bárbara Gordon, a detetive René Montoya, seus colegas corruptos Bullock e Flass, o chefão do crime Rupert Thorne e, é claro, o promotor Dent.

A série traz diversos easter eggs, como alguém vestido como o faraó egípcio Rei Tut, vilão da série televisiva dos anos 60, mas a mais curiosa acontece no episódio 7, quando os órfãos raptados pela vilã têm os nomes de vários Robins, e a última é Carrie, que usa como defesa um estilingue, igual à sua xará na trilogia O Cavaleiro das Trevas.

Cenário

O cenário inspirado nos anos 40 e o roteiro sombrio e realista são as diferenças mais evidentes com The Animated Series. Mas talvez a contribuição de Matt Reeves venha de uma abordagem mais psicossocial às ações do Batman.

Ao longo dos 10 episódios, o herói amadurece emocionalmente, com as interações com Gordon, Bárbara, Selina Kyle e principalmente com Alfred. Por outro lado, passa a compreender melhor que o mal que assola Gotham não se limita ao crime, mas à corrupção e a desigualdade social.

Ao final, da mesma forma que a HQ Batman – Ano Um e os filmes Batman Begins e o mais recente Batman de Reeves, o Coringa se anuncia como grande ameaça de um segunda temporada, que para mim é uma questão de tempo.

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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