Review | Flow

O vencedor do Oscar na categoria Longa de Animação, Flow, é a primeira produção da Letônia indicada ao maior prêmio do cinema. A comoção no pequeno país báltico foi maior que a do Brasil por conta das três indicações de Ainda Estou Aqui.

No final das contas, o diretor Gints Zilbalodis foi recebido como herói nacional ao desembarcar no país com sua estatueta dourada.

Flow se passa em um mundo sem humanos, que deixaram vestígios de sua existência, mas foram exterminados por conta de enchentes causadas pelas mudanças climáticas.

Nesse cenário meio surrealista, restam cães e gatos domésticos e animais selvagens de diferentes locais, como a nossa capivara e lêmures de Madagascar, além de cervos que percorrem as florestas em manadas e peixes em profusão que povoam as águas.

O protagonista é um gatinho solitário, que no início vive numa casa de humanos rodeadas de obras representando gatos. Aqui cabem interpretações. Há quem ache que os antigos donos eram os tutores do bichano.

Eu já acho que os humanos sumiram a tempo suficiente para alguns animais terem evoluído de forma diferente das espécies de hoje, como baleias reptilianas e pássaros secretários muito maiores e inteligentes.

Em todo o caso, durante a jornada para sobreviver às águas – Flow pode ser traduzido como inundação ou fluxo – o gato tem que aprender a nadar, pescar e a conviver com outras espécies, que estão literalmente no mesmo barco.

O que mais impressiona em Flow é que toda essa beleza foi feita com recursos muito inferiores que os concorrentes ao Oscar, Divertida Mente 2 e Robô Selvagem, usando um software gratuito e vindo de um país sem nenhuma tradição na área.

Lembrando que o conglomerado Disney, durante décadas sinônimo de desenho animado, está há três anos sem ganhar o Oscar. E o pior? No ano de seu centenário, em 2023, Wish foi lançado especialmente para marcar a data. O resultado? Não foi indicado e sequer é lembrado.

Em um filme sem falas, houve a preocupação de dublar os personagens com animais da mesma espécie, à exceção da capivara, que como nós brasileiros sabemos, não é dos bichos mais expressivos sonoramente. O maior roedor do mundo recebeu a voz de um camelo…

Flow é belo, expressivo e algo enigmático, e merece ser visto na telona. Atenção, por que temos cenas pós-créditos que mudam o clima do final.

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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