Anos atrás, a revista – e desinfetante, na brilhante definição do Porta dos Fundos – Veja, no auge de seu reacionarismo, chamou Chico de “sambista”, numa tentativa de rebaixar o grande nome da MPB e da literatura brasileira. Veja se tornou menos que um desinfetante, a Editora Abril, sua dona, desapareceu nas brumas das negociatas, mas Francisco Buarque de Hollanda, aos 80 completados neste dia 19 de junho, continua sendo Chico.
Meus Caros Amigos, de 1976, foi o primeiro LP que não era coletânea que eu comprei, e assim que pude, adquiri Construção, de 1970, numa badalada loja de discos na Rua Augusta, em São Paulo.
Até hoje considero ambos os melhores trabalhos dele, mas Chico não parou no tempo, ainda que as canções que ficaram no imaginário coletivo sejam do período entre 1966 e 1984.
Mesmo se dividindo entre música e literatura a partir dos anos 1990, sua inquietude fez com que embrenhasse em novas harmonias mais sofisticadas e elaboradas. Enquanto a música popular se tornava cada vez mais populista, Chico Buarque se distanciava cada vez mais dos ouvidos acostumados às fórmulas fáceis.
Ao mesmo tempo, foi se consolidando como escritor, ainda que sua produção literária não tenha o mesmo brilho que a musical, não há como negar que Budapeste é muito bom.
Enfim, este texto não tem a pretensão de analisar sua vasta obra cantada e decantada mundo afora, mas apenas registrar a efeméride dos oitenta anos do artista, muito melhor que escrever um obituário, Salve Chico Buarque, definido pelo amigo Vinícius de Moraes, como uma das poucas montanhas na planície que é a música brasileira.
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