Aposentado desde 2018, muita gente talvez se pergunte: mas quem é esse Robert Redford, que faleceu nesta terça, dia 16 de stembro? Além de ter sido um dos maiores galãs entre as décadas de 1960 e 1980, foi um dos primeiros grandes astros de Hollywood a fazer uma bem sucedida transição da atuação para a direção, com sua estreia na função, em Gente como a Gente, de 1980, lhe rendendo o Oscar de Melhor Filme e Direção. Sua maior contribuição para a Sétima Arte, no entanto, foi a criação do Festival Sundance de Cinema Independente, eu dá oportunidade a novos cineastas de serem vistos e terem chances na indústria. O nome veio do seu personagem favorito que interpretou, que é o Sundance Kid de Butch Cassidy. Esse foi o primeiro dos dois filmes que fez com o amigo Paul Newman, outro sex-symbol da época, Golpe de Mestre, que Redford considerava sua melhor atuação.
A aparição mais antiga dele que me lembro foi em um episódio de Além da Imaginação, de 1962, em que ele encarnava a Morte, muito antes de Brad Pitt em Encontro Marcado. Em 1966, ele atua ao lado de Marlon Brando e Jane Fonda em Caçada Humana, do grande Arthur Penn. No mesmo ano, ele foi escalado para Essa Mulher é Proibida, de Sidney Pollack, baseado em Tenessee Wiliams e com Francis Ford Coppola como um dos roteiristas, estrelado lado de sua antiga colega de escola Natalie Wood; e em 1967, Descalços no Parque, comédia romântica escrita por Neil Simon ao lado de Jane Fonda, com quem atuaria varias vezes.
Ele se estabelece com astro em 1969, justamente no faroeste outonal Butch Cassidy, no original “and Sundance Kid”, de George Roy Hill, em que Paul Newman anda de bicicleta com Katherine Ross, que era namorada de Sunadance/Redford no filme, ao som de Raindrop’s Falling on my Head. Daí em diante é um sucesso atrás do outro: Mais Forte que a vingança (1972), de Sidney Pollack de novo; O Candidato (1972), de Michael Ritchie; Nosso Amor de Ontem (1973), novamente dirirgido por Pollack, sendo o par romântico de Barbra Streisand e, finalmente, Golpe de Mestre (1973), repetindo a parceria com George Roy Hill e Paul Newman e o sucesso de público, crítica e Oscar de Melhor Filme.
Então ele se mete numa encrenca ao topar fazer o protagonista de O Grande Gatsby, a adaptação do clássico romance de F. Scott Fitzgerald, dirigido por Jack Clayton, que assinou Os Inocentes e Almas em Leilão, e tendo Mia Farrow no papel de Daisy, sonho inatingível do arrivista milionário. Essa versão foi detonada pela crítica, fracasso de bilheteria, praticamente acabou com a carreira de Clayton, mas Redford sobreviveu para fazer Todos os Homens do Presidente, em 1976, No filme que conta como foi feita a reportagem do escândalo Watergate, que acabou derrubando o presidente Richard Nixon, Redford interpreta Bob Woodward, que com o colega Carl Bernstein, papel de Dustin Hoffman, que ligam o arrombamento da sede do Partido Democrata à Casa Branca. No anterior, havia feito Três Dias do Condor, novamente com Sidney Pollack, um suspense de espionagem paranóico que, de certa forma, antecipa a franquia Bourne, onde ninguém confia em ninguém. Talvez estes dois filmes encerrem sua melhor fase como ator.
Os anos seguintes são cheios de trabalhos que exploram sua boa pinta e imagem consagrada, como no épico de guerra Uma Ponte Longe Demais, e comédias românticas com parceiras de diversas gerações, como Jane Fonda (O Cavaleiro Elétrico); Meryl Streep (Entre Dois Amores); Debra Winger (Perigosamente juntos) e Lena Olin (Havana, cópia descarada de Casablanca).
Nesse meio tempo, acontece sua estrei como diretor em Gente como a Gente, em 1980 e ele vence os Oscars de Filme e Direção, antecipando Kevin Costner e Mel Gibson. Em 1984, ele cria o Sundance, no meio de Utah, que hoje em dia é reconhecido como um evento que ajuda Hollywood a se reciclar. Entre os filmes que dirigiu estão Rebelião em Milagro, de 1988, com Sonia Braga, com quem chegou a namorar; Nada é Para Sempre, de 1992, com Brad `Pitt; Quiz Show, de 1994, com Ralph Fiennes e John Turturro; Lendas da Vida, de 2000, com Will Smith; e o ambicioso Leões e Cordeiros, de 2007, com Tom Cruise, Mery Streep e ele mesmo no elenco, que tenta debater as consequências da Guerra Contra o Terror para os EUA.
Como a idade chega para todos, nos ano 1990 ele passa a interpretar idosos, ainda que boa-pintas, como Proposta Indecente (1993), em que um milionário Robert Redford oferece um milhão de dólares ao casal Woody Herrelson e Demi Moore por uma noite com ela. Como diria Paulo Francis, se o filme fosse sério o autor da proposta devia ser Danny De Vito. Três anos depois, ele faria o papel de um âncora veterano que tem um caso com a moça do tempo do telejornal interpretada por Michelle Pfeiffer em Íntimo e Pessoal. Em Encantador de cavalos, de 1998, que ele dirige e contracena com uma Scarlett Johansson adolescente , mas calma lá: o negócio dele é com a mãe, Kristin Scott-Thomas.
Sua ultima aparição relevante foi como Alexander Pierce em Capitão América e o Soldado Invernal (2014), uma escalação motivada pela sua persona cinematográfica que sempre fez o papel de mocinho, um ponto alto do filme da Marvel, sem dúvida. Isso que um ano antes ele havia estrelado Até o Fim, uma espécie de O Velho e o Mar, em que ele chegou a perder parte da audição por conta das cenas na água gelada.
Se ele nunca venceu a maldição do galã, como seu amigo Paul Newman conseguiu ao ganhar o Oscar de Melhor Ator com A Cor do Dinheiro, Robert Redford fica na história do cinema não apenas por seus grandes filmes, mas por criar uma porta de entrada para novos cineastas.