Brasil vence Oscar pela primeira vez com Ainda Estou Aqui

Ainda Estou Aqui fez história neste domingo, 2 de março, como a primeira produção brasileira a vencer um Oscar, levando a estatueta de Melhor Filme Internacional.

Isso foi resultado, além da qualidade do longa em si, da campanha encabeçada pelo diretor Walter Salles, mas com Fernanda Torres sendo fundamental na maratona de exibições e entrevistas desde que a produção recebeu três indicações: Filme, Filme Internacional e Atriz.

Foi a primeira produção latino-americana a conseguir este feito!

Embora Demi Moore fosse favorita a Melhor Atriz por A Substância, a verdade é que a personagem é uma versão dela mesmo: uma atriz que na juventude foi linda e prestigiada (no auge, foi a mais bem paga de Hollywood) e hoje sofre com a decadência da idade.

A vencedora Mikey Madison – de Anora, o grande filme do Oscar – criou sua personagem do zero. Californiana, teve que treinar o sotaque de Nova York, aprender russo e fazer três meses de aulas de pole dance que foram usados 30 segundos no longa.

Isso sem contar na fisicalidade de sua atuação, tanto nas cenas de sexo quanto na longa sequência de briga e na busca pelo seu marido. Não foi um “roubo”, como quando Gwyneth Paltrow, de Shakespeare Apaixonado, levou o Oscar ao invés de Fernanda Montenegro, por Central do Brasil, em 1999.

A interpretação de Fernanda Torres em Ainda Estou Aqui era tecnicamente superior, mas uma atriz latino-americana falando português ganhar a festa da firma de Hollywood seria demais. Essa é a grande verdade.

As únicas atrizes a levar o Oscar de Atriz falando idioma “estrangeiro” foram Simone Signoret (em francês), Sophia Loren (em italiano, e ela já era uma estrela até nos EUA) e Marion Cotillard (em francês), todas em filmes europeus.

Incontestáveis

Como Filme, confesso que torcia por O Brutalista. Porém, Anora também é ótimo e as estatuetas de Diretor, Roteiro Original e Montagem – tudo feito pelo próprio autor Sean Baker – deram coerência ao prêmio principal.

O filme de Brady Corbet ganhou em Fotografia e Trilha Original, incontestáveis e que eu previ.

Acertei também que Adrien Brody levaria seu segundo prêmio Oscar, apesar do sprint final de Timothée Chalamet por Um Completo Desconhecido, e de alguns acharem que Ralph Fiennes tinha chance por O Conclave. Sorry. Cravei que o filme de Edward Berger levaria Roteiro Original, mas errei que venceria Figurino e Direção de Arte. Quem ganhou os dois prêmios foi Wicked.

Os prêmios de Ator e Atriz Coadjuvantes para Kieran Culkin (A Verdadeira Dor) e Zoe Zaldaña, e Canção Original para El Mal, estes dois últimos de Emilia Pérez, eram barbadas, por conta dos êxitos anteriores que colecionaram.

Em Longa de Animação, o tsunami Flow também se confirmou, para orgulho da pequena Letônia.

Momentos

O apresentador da cerimônia, Conan O’Brien, é um dos entrevistadores/comediantes de talk show mais famoso e antigo dos Estados Unidos. Mas deixou a impressão que qualquer um dos seus colegas “Jimmis” – Fallon ou Kimmel – fariam um trabalho melhor.

Houve quem achasse a piada sobre Ainda Estou Aqui (“A história de uma mulher que tem que lidar com o desaparecimento do marido. Minha esposa espera que aconteça o mesmo com ela”) ofensiva, mas é só ruim.

De resto, tivemos o discurso mais longo da história do Oscar com Adrien Brody, 22 anos depois de vencer o mesmo prêmio de Melhor Ator por O Pianista, ultrapassar a barreira dos cinco minutos (possivelmente porque sua carreira entre as duas estatuetas não foi essas coisas).

Tivemos um In Memorian furreca (ano passado tivemos o Andrea Bocelli) e incompleto, com as ausências do nosso Cacá Diegues; Michelle Trachtemberg, de Buffy e Gossip Girl; Bernard Hill, o capitão de Titanic; Shannen Doherty, de Barrados no Baile e Charmed; Tony Todd, de O Mistério de Candyman; entre outros.

A homenagem a Barbara Broccoli e Michael G. Wilson, responsáveis pela franquia James Bond há décadas, com o Governors Award e um número musical com diversos temas da franquia, ficou com cara de velório, já que eles tinha acabado de perder o controle criativo sobre o mais famoso agente secreto do mundo para a Amazon.

De resto, Margaret Qualley apresentou suas credenciais para ser a nova Bond Girl?

Politicamente importante foi o discurso de dois dos vencedores do Oscar de Documentário em Longa Metragem, No Other Land, sobre o deslocamento forçado de uma comunidade na Cisjordânia pelo governo de Benjamin Netanyahu.

O cineasta palestino Basel Adra e seu colega na produção, o israelense Yval Abraham, falaram contra a limpeza étnica em andamento tanto na Faixa de Gaza quanto na Cisjordânia e a favor da criação de uma Palestina livre. A maioria da comunidade do audiovisual americano é anti-Trump, mas mesmo assim, foi um momento marcante.

Confira os indicados e vencedores do Oscar 2025:

Melhor Ator Coadjuvante

Yura Borisov, por Anora
Kieran Culkin, por A Verdadeira Dor (VENCEDOR)
Edward Norton, por Um Completo Desconhecido
Guy Pearce, por O Brutalista
Jeremy Strong, por O Aprendiz

Melhor Animação

Flow (VENCEDOR)
Divertida Mente 2
Memórias de um Caracol
Wallace e Gromit: Avengança
O Robô Selvagem

Melhor Animação em Curta-Metragem

Beautiful Men
In the Shadow of the Cypress (VENCEDOR)
Magic Candies
Wander to Wonder
Yuck!

Melhor Figurino

Um Completo Desconhecido
Conclave
Gladiador II
Nosferatu
Wicked (VENCEDOR)

Melhor Roteiro Original

Anora (VENCEDOR)
O Brutalista
A Verdadeira Dor
A Substância
Setembro 5

Melhor Roteiro Adaptado

Um Completo Desconhecido
Conclave (VENCEDOR)
Emilia Pérez
Nickel Boys
Sing Sing

Melhor Cabelo e Maquiagem

Um Homem Diferente
Emilia Pérez
Nosferatu
A Substância (VENCEDOR)
Wicked

Melhor Edição

Anora (VENCEDOR)
O Brutalista
Conclave
Emilia Pérez
Wicked

Melhor Atriz Coadjuvante

Monica Barbaro, por Um Completo Desconhecido
Ariana Grande, por Wicked
Felicity Jones, por O Brutalista
Isabella Rossellini, por Conclave
Zoe Saldaña, por Emilia Pérez (VENCEDORA)

Melhor Design de Produção

O Brutalista
Conclave
Duna: Parte 2
Nosferatu
Wicked (VENCEDOR)

Melhor Canção Original

El Mal, de Emilia Pérez (VENCEDOR)
The Journey, de The Six Triple Eight
Like a Bird, de Sing Sing
Mi Camino, de Emilia Pérez
Never Too Late, de Elton John: Never Too Late

Melhor Documentário de Curta-Metragem

Death By Numbers
I am Ready, Warden
Incident
Instruments of a Beating Heart
The Only Girl in the Orchestra (VENCEDOR)

Melhor Documentário

Black Box Diaries
No Other Land (VENCEDOR)
Porcelain War
Soundtrack to A Coup D’Etat
Sugarcane

Melhor Som

Um Completo Desconhecido
Duna: Parte 2 (VENCEDOR)
Emilia Pérez
Wicked
O Robô Selvagem

Melhores Efeitos Visuais

Alien: Romulus
Better Man
Duna: Parte 2 (VENCEDOR)
Planeta dos Macacos: O Reinado
Wicked

Melhor Curta-Metragem em Live-Action

A Lien
Anuja
I’m Not a Robot (VENCEDOR)
The Last Ranger
The Man Who Could Not Remain Silent

Melhor Fotografia

O Brutalista (VENCEDOR)
Duna: Parte 2
Emilia Pérez
Maria
Nosferatu

Melhor Filme Internacional

Ainda Estou Aqui (VENCEDOR)
A Garota da Agulha
Emilia Pérez
A Semente do Fruto Sagrado
Flow

Melhor Trilha Sonora Original

O Brutalista (VENCEDOR)
Conclave
Emilia Pérez
Wicked
Robô Selvagem

Melhor Ator

Adrien Brody, por O Brutalista (VENCEDOR)
Timothée Chalamet, por Um Completo Desconhecido
Colman Domingo, por Sing Sing
Ralph Fiennes, por Conclave
Sebastian Stan, por O Aprendiz

Melhor Direção

Sean Baker por Anora (VENCEDOR)
Brady Cobert por O Brutalista
James Mangold por Um Completo Desconhecido
Jacques Audiard por Emilia Pérez
Coralie Fargeat por A Substância

Melhor Atriz

Cynthia Erivo, por Wicked
Karla Sofía Gascón, por Emilia Pérez
Mikey Madison, por Anora (VENCEDORA)
Demi Moore, por A Substância
Fernanda Torres, por Ainda Estou Aqui

Melhor Filme

Anora (VENCEDOR)
O Brutalista
Um Completo Desconhecido
Conclave
Duna: Parte 2
Emilia Pérez
Ainda Estou Aqui
Nickel Boys
A Substância
Wicked

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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