4 out 2025, sáb

O ano mágico de Claudia Cardinale foi 1963, o do meu nascimento. Foi quando ela representou a beleza e a inspiração para Federico Fellini, encarnado por Marcello Mastroianni em Oito e Meio. Fez O Leopardo de Luchino Visconti ao lado de Alain Delon e Burt Lancaster; e participou de sua primeira produção hollywoodiana em A Pantera Cor de Rosa, de Blake Edwards, com Peter Seller, David Niven e Capuccine.

Mas, ao contrário do que saiu no obituário da Folha de S. Paulo desta terça, dia 23/09, 1963 não foi sua première mundial. Isso aconteceu em Os Eternos Desconhecidos, de 1958, longa exibido na última quinta-feira no Festival do Cinema Italiano do Topázio Cinemas, em um elenco que tinha ainda Vittorio Gassman, Marcello Mastroianni e Totó. A partir de então, passou a estrelar diversos sucessos de público, como O Belo Antônio (1960), de Mauro Bollognini, em que se casa com o galã Marcello Mastroianni para descobrir que ele não “comparece” (fez tanto sucesso por aqui que deu o apelido para o Simca-Chambord, que era bonito, mas sem potência); e de crítica, como Rocco e seus Irmãos (1960), facilmente uma das obras-primas de Visconti; e A Moça com a Valise (1961), de Valerio Zurlini, um dos favoritos do cineasta e cinéfilo Carlos Reichenbach.

É verdade que seu papel em Era uma Vez no Oeste (1968), o clássico do western spaghetti de Sergio Leone. é revolucionário no gênero: uma prostituta que se casa com um fazendeiro que descobre que seu marido e filhos foi assassinado e tem que usar sua feminilidade para sobreviver e recuperar o que é seu, seduzindo o malvado Henry Fonda e abalando o taciturno Charles Bronson. Mas dois anos antes ela já havia feito Os Profissionais, de Richard Brooks outro grande faroeste em que fugia do estereótipo de mocinha em perigo, em um elenco cheio de testosterona que tinha Burt Lancaster, Lee Marvin, Jack Palance, Woody Stroode e Robert Ryan.

Sophia Loren pode ter sido mais famosa e a primeira a ganhar o Oscar em um filme não falado em inglês, mas Claudia teve no currículo filmes superiores e diretores mais importantes. Além dos já citados, com Visconti fez mais dois trabalhos – Vagas Estrelas da Ursa (1965) e Violência e Paixão (1974) – ; com Liliana Cavani fez A Pele (1981); com Werner Herzog fez Fitzcarraldo (1982), no meio da Amazônia; e com Marco Bellocchio fez Henrique IV (1984), adaptação da peça de Luigi Pirandello.

Com ela morre mais um pouco dos anos de ouro do Cinema Italiano, cuja última sobrevivente suspeito ser Sophia Loren, quatro anos mais velha. Impossível não concordar com Fellini ao escalá-la como musa inspiradora em Oito e Meio.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *