Nunca antes na história deste País, houve tanta torcida em uma premiação do Oscar. Além do sucesso de bilheteria e crítica dentro e fora do Brasil (apenas em Indaiatuba, o filme acaba de quebrar o recorde que era de Titanic de dias consegutivos em cartaz), Ainda Estou Aqui é um dos favoritos à estatueta de Filme Estrangeiro, Fernanda Torres está entre as três mais cotadas para Atriz e a inclusão na categoria principal, Filme, já é, em si, um prêmio.
É curioso o timing do Oscar deste ano. O papa Francisco agoniza e um dos favoritos é Conclave. A questão dos imigrantes é levantada de forma negativa por Trump e pelos triunfantes partidos alemães de direita, e outro destaque da p-remiação é O Brutalista, sobre um refugiado judeu nos EUA pós-guerra. O próprio Ainda Estou Aqui e seu pano de fundo do regime de exceção foi sido visto por um crítico da Variety como alerta para o que anda acontecendo na América.
Mas como estão as cotações a pouco dias da cerimônia no Teatro Dolby, em Los Angeles? Durante quase todo o período entre o anúncio dos indicados até esta semana, O Brutalista era apontado como favorito a Filme, assim como Adrian Brody como Ator. Agora, já surgem especulações de que o filme de Brady Corbet poderia ser superado por Anora na categoria principal e Timothée Chalamet por Um Completo Desconhecido, ganhou o SAG Awards, do Sindicato de Atores, e entrou na corrida como intérprete. Tanto O Brutalista quanto Anora são excelentes, mas o primeiro tem mais cara de Oscar, um clássico instantâneo, enquanto Anora é cinema independente, por melhor que seja. Como Ator, mesmo Chalamet no discurso de vitória no SAG Awards deixando a modéstia de lado e dizendo que mereceu por conta dos 5 anos dedicados ao projeto, não dá para comparar seu trabalho com o de Adrian Brody. Seu Dylan é um ótimo tributo à lenda que ganhou o Nobel de Literatura escrevendo canções, mas não para levar o Oscar deste ano.
Em Direção, se a disputa de Filme está entre O Brutalista e Anora, então a categoria está entre Brady Corbet, do primeiro, e Sean Baker. O certo é o melhor diretor ganhar junto com sua obra, mas acontece muitas vezes de não ser.
Na categoria Atriz, tudo leva a Demi Moore, por A Substância,que levou dois prêmios importantes nas últimas semanas, o Critics Choice Awards e o SAG Awards. Mas, em ambos, Fernanda Torres, que ganhou o Globo de Ouro, não estava indicada, porque Ainda Estou Aqui explodiu apenas recentemente nos EUA e Reino Unido. Por ouro lado, Mikey Madison, de Anora, venceu o Bafta batendo justamente Demi Moore, e, novamente, Fernanda não estava indicada. Dentre os prêmios importantes, e o Oscar é O prêmio importante, é o primeiro que Demi, Mikey e Fernanda concorrem diretamente, lembrando que no Globo de Ouro, a atriz de A Substância venceu na categoria Comédia ou Musical e a brasileira em Drama. Dá para torcer com uma certa esperança, e o The New York Times concorda com a gente, cravando Fernanda na categoria.
Ator e Atriz Coadjuvantes até perdeu a graça, já que tanto Kieran Culkin, de A Verdadeira Dor, e Zoe Zaldana, de Emilia Perez, ganharam tudo até agora, e não deve ser diferente no próximo domingo.
Filme Internacional é outra categoria que nos interessa diretamente, e a disputa é basicamente entre Ainda estou aqui e Emilia Perez. Ouso dizer que o filme de Walter Salles é o favorito, não apenas porque é melhor – e é, muito – mas porque o período de votação incluiu o auge da polêmica envolvendo a produção do filme francês e sua estrela, Karla Sofia Gascón. É muito difícil ignorar as reclamações das comunidades mexicanas, latino-americanas em geral e até trans.
Outra categoria cada vez mais popular é Longa de Animação, em que concorre o blockbuster Divertida Mente 2, o sucesso de crítica Robô Selvagem, mas o favorito é Flow, uma produção da Letônia sem diálogos, que também concorre como Filme Internacional (só faltava…).
Roteiros são as categorias mais importantes junto com os de atuação, Filme e Direção, mas só especialista se importa. Os favoritos a Filme Anora (Sean Baker), O Brutalista (Brady Corbet e Mona Fastvold), mais A Substância (Coralie Fargeat), A Verdadeira Dor (Jesse Eisenberg) e September 5 (Tim Fehlbaum, Moritz Blinder e Alex David) concorrem a Roteiro Original. Conclave (Peter Straughn e Robert Harris), Um Completo Desconhecido (James Mangold e Jay Crocks), Reformatório Nickel (RaMell Ross e Joslyn barres), Sing Sing (John H. Richardson, Brent Buell, Clint Bentley e Greg Kwedar) e Emilia Perez (Jacques Audiard e Thomas Bidegain) disputam Roteiro Adaptado. Original está entre Anora e O Brutalista (quem ganhar, aumenta chances para Filme), mas Coralie Fargeat por surpreender, apesar de não achar A Substância substanciosa. O Adaptado deve ser de Conclave, e eu acho absurdo Murilo Hauser e Heitor Lorega de Ainda Estou Aqui não terem sido indicados.
Em Fotografia me impressionou O Brutalista (Lol Crawley) e Duna Parte 2 (Greig Fraser). A Montagem de O Brutalisa (David Jancsó) é um absurdo, mas a de Anora (do próprio Sean Baker) também é excelente.
A Direção de Arte deve ficar com Conclave, de Carlo Aloisio, assim como Figurino, de Lisy Christl, embora Wicked esteja no páreo. Em Trilha Sonora, meu voto seria de novo para O Brutalista, de Daniel Blumberg. Canção Original é uma tristeza, mas provavelmente El Mal, de Emilia Perez, deve ganhar. Cabelo e Maquiagem de Nosferatu são impressionantes, mas pode ser que gostem do exagero de A Substância. Agora, à exemplo do que aconteceu ano passado com Godzilla Minus One, seria legal se Efeitos Visuais fosse para o azarão Alien: Romulus, mas Duna 2 é favorito.
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