Globo de Ouro 2018 | Abusos e empoderamento dão o tom

O Globo de Ouro é um dos principais prêmios da indústria audiovisual, a despeito da dúvida da competência ou mesmo imparcialidade dos votantes, jornalistas estrangeiros em Hollywood, que costumam ser mais deslumbrados que seus colegas americanos.

Sua 75ª premiação, que aconteceu neste domingo, dia 7, foi, portanto, o cenário prefeito para que a comunidade de Hollywood demonstrasse solidariedade às pessoas que sofreram abusos por poderosos da indústria do entretenimento, e ao mesmo tempo marcar uma nova era para as mulheres no cinema e TV.

À parte o marketing oportunista – fazer todo mundo ir de preto numa cerimônia de gala não é exatamente um desafio, queria ver ir todo mundo de rosa, por exemplo, incluindo os homens – é inegável uma mudança de comportamento em curso. O Globo de Ouro acabou sendo a vitrine do Time’s Up (o tempo acabou), frase repetida durante toda a festa. Nas palavras de abertura do apresentador Seth Meyers: “senhoras e o que restaram dos senhores (gentlemen, em inglês, cai melhor na piada)”.

O clima de protesto atingiu o clímax no discurso da homenageada Oprah Winfrey, ao receber o Prêmio Cecil B. De Mille. Possivelmente a mulher mais poderosa da mídia americana, contribuiu decisivamente para a eleição de Barack Obama e era vista antes da cerimônia como possível rival de Donald Trump no próximo pleito presidencial. A julgar pelo tom e efeito de suas palavras no Globo de Ouro, ela é candidatíssima.

Sam Rockwell e Frances McDormand em ‘Três Anúncios para um Crime’

Todo esse contexto externo se refletiu na premiação em si, sem demérito às qualidades estéticas dos vencedores. Três Anúncios para um Crime, sobre uma mãe que usa outdoors para forçar a polícia investigar o estupro e assassinato da filha, levou as categorias Filme, Atriz em Drama (Frances MacDormand), Roteiro e Ator Coadjuvante (Sam Rockwell), deixando ao mais indicado A Forma da Água, apenas os troféus de Direção para Guillermo Del Toro (que foi anunciado após o catártico discurso de Oprah, coitado) e de Trilha Musical. Em Comédia ou Musical, quem saiu vencedor foi Lady Bird – Aprendendo a Voar, uma história sobre o amadurecimento de uma garota da diretora estreante Greta Harwig (roteirista e protagonista de Frances Ha), que deu ainda o prêmio da Atriz da categoria para a talentosa Saiorse Ronan.

Nas premiações televisivas, o domínio da temática feminina foi ainda maior. A minissérie estelar Big Little Lies, sobre donas de casa de uma comunidade abastada envolvidas em crimes e abuso doméstico, levou as estatuetas de Minissérie ou Filme para TV, Atriz na categoria (Nicole Kidman), Atriz Coadjuvante (Laura Dern) e Ator Coadjuvante (Alexander Skarsgard). Em série dramática, O Conto da Aia, uma distopia em que mulheres férteis são escravas reprodutoras de machos ricos, ganhou como Série Dramática e Atriz Dramática (Elisabeth Moss). Em séria cômica, a quase desconhecida por aqui, The Marvelous Mrs. Maisel, sobre uma dona de casa dos anos 50 que larga tudo para se arriscar no stand up comedy, foi a grande campeã, com os prêmios de melhor produção da categoria e Atriz (Rachel Brosnahan).

Outros prêmios

Gary Oldman ganhou o premio de Ator de cinema dramático pelo seu Winston Churchill em O Destino de uma Nação, batendo medalhões como Tom Hanks (The Post), Daniel Day-Lewis (Trama Fantasma), Denzel Washington (Roman J. Israel, Esq.) e o novato Timothée Chalamet (Me Chame pelo Seu Nome).

James Franco em ‘O Artista do Desastre’

James Franco conseguiu vencer na categoria Ator em Comédia ou Musical por O Artista do Desastre;  e Allison Janney foi a melhor atriz coadjuvante em Cinema por Eu, Tonya. Em Pedaços, filme alemão com Diane Kruger venceu a categoria Filme Estrangeiro; Viva – A Vida é uma Festa foi a melhor animação e O Rei do Show ganhou a Melhor Canção por This is Me.

Em TV, o melhor Ator de série dramática foi o ótimo Sterling K. Brown de This is Us; Ewan McGregor venceu em Ator em Minissérie ou Filme de TV por Fargo; e Aziz Ansari foi o melhor ator em Comédia por Master of None.

VENCEDORES DO GLOBO DE OURO 2018

Cinema

Melhor filme dramático: Três Anúncios para um Crime

Melhor filme cômico ou musical: Lady Bird: É Hora de Voar

Melhor diretor: Guillermo Del Toro – A Forma da Água

Melhor ator – drama: Gary Oldman – O Destino de uma Nação

Melhor ator – comédia ou musical: James Franco – O Artista do Desastre

Melhor atriz – drama: Frances McDormand – Três Anúncios para um Crime

Melhor atriz – comédia ou musical: Saorsie Ronan – Lady Bird: É Hora de Voar

Melhor ator coadjuvante: Sam Rockwell – Três Anúncios para um Crime

Melhor atriz coadjuvante: Alisson Jenney – Eu, Tonya

Melhor roteiro: Três Anúncios para um Crime

Melhor trilha sonora: A Forma da Água

Melhor canção original: This is Me O Rei do Show

Melhor animação: Viva: A Vida É uma Festa

Melhor filme estrangeiro: Em Pedaços (Alemanha/França)

Televisão

Melhor série dramática: The Handmaid’s Tale

Melhor série cômica: The Marvelous Mrs. Maisel

Melhor minissérie ou filme para TV: Big Little Lies

Ator em série dramática: Sterling K. Brown – This is Us

Ator em série cômica: Aziz Ansari – Master of None

Atriz em série dramática: Elisabeth Moss – The Handmaid’s Tale

Atriz em série cômica ou musical: Rachel Brosnahan – The Marvelous Mrs. Maisel

Ator em minissérie ou filme para TV: Ewan McGregor – Fargo

Atriz em minissérie ou filme para TV: Nicole Kidman – Big Little Lies

Ator coadjuvante em TV: Alexander Skarsgard – Big Little Lies

Atriz coadjuvante em TV: Laura Dern – Big Little Lies

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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