Indicações de Ainda Estou Aqui já são vitórias. Mas dá para levar o Oscar?

As indicações de Ainda Estou Aqui para Atriz, Filme Internacional e Filme para o Oscar já representam vitórias para o filme e para o cinema brasileiro, e mereceram a comemoração que tomou conta do País nesta quinta-feira. Mas dá para sonhar com a estatueta dourada?

O filme de Walter Salles concorre duas vezes com Emília Perez, a produção em língua não-inglesa com maior número de indicações na história, em Filme e Filme Internacional. Na primeira categoria, a principal, os favoritos são O Brutalista, Conclave e Um Completo Desconhecido (a biografia de Bobby Dylan), com Anora, Duna Parte 2, Wicked, Nickel Boys, A Substância e os dois citados anteriormente correndo por fora. Já em Filme Internacional, o favorito é Emília Perez, que representa a França, com a lista sendo completada por Ainda Estou Aqui; o dinamarquês A Garota da Agulha, A Semente do Fruto Sagrado, que representa a Alemanha, mas foi feito clandestinamente no Irã; e a surpresa Flow, da Letônia, que também concorre como Animação. A comunidade trans e os mexicanos vêm criticando duramente o longa de Jacques Audiard e resta saber o quanto isso irá corroer seu prestígio até se encerrarem as votações. Com isso, as chances de Ainda Estou Aqui podem crescer.

Na categoria Atriz, concorrem Fernanda Torres por Ainda Estou Aqui. Demi Moore por A Substância; Mickey Madison por Anora; Karla Sofia Gascón por Emília Perez; e Cynthia Erivo por Wicked. Hoje, a disputa está entre Demi, ligeiramente à frente, e Fernandinha, mas, venhamos e convenhamos, em que pese o comovente discurso de agradecimento da estrela de Ghost no Globo de Ouro, sua atuação no filme de Coralie Fargeat é uma extensão de sua persona cinematográfica, a léguas de distância do que Fernanda faz ao incorporar Eunice Paiva, numa interpretação minimalista carregada de sutilezas que só uma grande atriz é capaz de entregar.

Afinal, é o primeiro filme brasileiro a concorrer como Melhor Filme?

O Beijo da Mulher Aranha concorreu à categoria de Melhor Filme da cerimônia de 1985, e foi a primeira produção independente a ser indicada na categoria. Era uma co-produção Brasil e EUA, era falada em inglês e os atores principais eram americanos, William Hurt (que ganhou o Oscar de Ator) e Raul Julia (nascido em Porto Rico mas radicado em Nova York). É bobagem dizer que Walter Salles é o primeiro brasileiro a dirigir um indicado ao Oscar de Filme, porque mesmo nascido em Mar Del Plata, Hector Babenco fez carreira no Brasil, e graças a ela foi para Hollywood, tendo se naturalizado em 1977.

O ineditismo de Ainda Estou Aqui é ser a primeira produção brasileira (em parceria com a França), com elenco inteiramente nativo falando em português a concorrer na principal categoria do Oscar.

E façam o favor de esquecer essa história de revanche. Fernanda Montenegro em 1999 era uma coisa e Fernanda Torres em 2025 é outra coisa. Na disputa ainda no século passado, a favorita era Cate Blanchett por Elisabeth e foi atrolepada pela campanha massiça da Miramax, estúdio de Shakespeare Apaixonado, que levou sete Oscars, incluindo o de Atriz para Gwyneth Paltrow, então, uma estrela em ascensão. Pior foi perder Filme Estrangeiro para A Vida é Bela, uma vigarice de Roberto Benigni, que levou a estatueta de Ator, mas logo em seguida todo mundo descobriu que ele era uma farsa e sua carreira afundou.

Agora, o contexto é outro pós Parasita, e a Sony abraçou Ainda Estou Aqui e está fazendo uma campanha profissionalíssima a seu favor. Onde ele é exibido, tem arrecadado público e críticas positivas, mas, antes de tudo, é preciso levar as pessoas para assistí-lo, e é isso que a distribuidora internacional tem feito. Tendo achar que, enquanto Emilia Perez e mesmo A Substância vão perder consistência até o dia 2 de março e Ainda Estou Aqui pode crescer. Como destacou a Variety, com a indicação a Melhor Filme, os votantes serão obrigados a vê-lo e aí vão se deparar com a excelência de execução de Salles (um injustiçado!) e a hipnotizante interpretação de Fernanda Torres. O Oscar vem!

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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