A Agência Nacional do Cinema (Ancine), vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), divulga o Panorama VOD 2025, estudo que analisa a oferta, circulação e diversidade da obra audiovisual no ambiente de vídeo sob demanda no Brasil.

Os dados revelam um cenário de crescimento do mercado, mas com redução contínua da presença da produção brasileira nos catálogos das plataformas de maior audiência, além de baixa circulação das obras nacionais entre os serviços.

O levantamento mostra que, embora o setor avance em número de assinantes e expansão de receita, a participação da obra brasileira no ambiente digital permanece limitada e concentrada, especialmente nas plataformas estrangeiras que dominam o mercado.

A análise reforça a necessidade de mecanismos que ampliem competitividade, visibilidade e equilíbrio no ecossistema audiovisual.

“Os dados mostram que, sem um marco regulatório, a produção brasileira perde espaço justamente nas plataformas que mais influenciam o consumo cultural no país”, destaca a ministra da Cultura, Margareth Menezes.

“O Ministério da Cultura tem atuado lado a lado com a Ancine para enfrentar esse desequilíbrio e construir, juntamente com o setor e com o Congresso, uma regulação que valorize a diversidade e a potência do audiovisual nacional. Regular o streaming é garantir soberania cultural, equilibrar o mercado e assegurar que as obras brasileiras cheguem ao público em toda sua riqueza e pluralidade”, completa.

Baixa participação

O Panorama confirma que as cinco plataformas líderes de audiência no Brasil disponibilizam apenas 6,3% de obras brasileiras em seus catálogos, sendo 3,4% provenientes de produtoras independentes.

Quando se exclui o Globoplay, que concentra grande parte da oferta nacional, o índice cai para 2,7% nas quatro plataformas estrangeiras de maior alcance, com apenas 2,2% de obras independentes brasileiras.

Essa baixa presença demonstra a dificuldade de inserção da produção nacional nos serviços mais consumidos pelos brasileiros e evidencia assimetrias na exposição ao público. O estudo indica que, sem instrumentos legais que promovam equilíbrio competitivo, a não ficção, o documentário, a animação e outros segmentos nacionais permanecem sub-representados nos ambientes de maior visibilidade.

“O Panorama evidencia que o crescimento do mercado de streaming não tem sido acompanhado pelo aumento da presença e da circulação da obra brasileira. Há uma assimetria estrutural que limita o alcance do nosso conteúdo e fragiliza a sustentabilidade do setor”, analisa o presidente da Ancine, Alex Braga.

“A Ancine tem trabalhado de forma contínua na produção de dados, no aprimoramento regulatório e na construção de mecanismos que ampliem competitividade, visibilidade e investimento no audiovisual nacional. É fundamental avançar para um ambiente regulado, equilibrado e capaz de garantir oportunidades reais para quem produz no Brasil”, completa.

Circulação reduzida 

Além da baixa presença nos catálogos mais populares, o estudo revela que a circulação da obra brasileira entre plataformas é extremamente restrita. Mais de 3.700 títulos nacionais estão disponíveis em apenas uma ou duas plataformas, o que reduz o alcance do conteúdo e limita oportunidades de descoberta pelo público.

O levantamento aponta ainda que somente 52,3% dos filmes brasileiros lançados entre 1995 e 2024 estão hoje disponíveis no VOD. A situação é semelhante quando analisamos a produção que passou pela TV por assinatura: das 12.660 obras exibidas entre 2015 e 2024, apenas 27,5% migraram para o ambiente digital.

A escassez de janelas e a baixa circulação comprometem o retorno econômico para produtores e distribuidoras, dificultam a construção de audiência e fragilizam a sustentabilidade de obras independentes, que dependem fortemente da ampliação de mercados para se manterem competitivas.

Plataformas brasileiras 

O estudo também evidencia que a presença da produção brasileira no VOD depende, sobretudo, das iniciativas locais. As plataformas brasileiras disponibilizam 3.906 obras nacionais, enquanto as estrangeiras oferecem 3.641, apesar de terem catálogos gerais mais que o dobro do tamanho das nacionais.

As plataformas brasileiras representam apenas 38% do volume total de obras encontrado nos serviços globais.

Esse desequilíbrio revela que a manutenção do acervo nacional é sustentada principalmente por plataformas brasileiras que operam em condições de competição desiguais quando comparadas às grandes empresas estrangeiras, que concentram escala, dados, algoritmos e capacidade financeira superior.

Marco legal

Os dados indicam um movimento de redução contínua da oferta brasileira nos catálogos das principais plataformas de VOD, ainda que existam ganhos pontuais em serviços específicos.

O núcleo dominante do mercado, composto pelas plataformas globais de maior audiência, tem diminuído a presença do conteúdo nacional, reduzindo diversidade, visibilidade e alcance das obras brasileiras no ambiente digital.

Diante desse cenário, o estudo aponta que um marco regulatório é fundamental para garantir condições mais equilibradas de competição, fortalecer os serviços brasileiros, ampliar a disponibilidade da produção nacional e assegurar a circulação de conteúdos independentes.

A regulamentação é vista como etapa estratégica para consolidar um ecossistema audiovisual mais diverso, plural e sustentável.

“Os dados deixam claro que o modelo atual não garante condições justas para a presença e a circulação do conteúdo brasileiro no streaming. Enquanto o mercado cresce e as plataformas ampliam sua receita, a participação da obra nacional encolhe”, afirma Márcio Tavares, secretário-executivo do MinC.

“Isso não é um movimento natural: é o resultado de uma assimetria estrutural que precisa ser enfrentada. O Ministério da Cultura, em parceria com a Ancine, trabalha buscando diminuir essas distorções e assegurar que a produção brasileira não seja tratada como exceção num mercado que se beneficia do público brasileiro” destaca.

Para concluir, lembra que “a regulação é um passo indispensável para garantir equilíbrio, diversidade e sustentabilidade ao audiovisual do país”.

Confira a pesquisa na íntegra aqui.

AGORA, UMA REFLEXÃO

Estaria o mercado nacional de cinema e televisão pronto para ‘abastecer’ as plataformas de streaming? Temos incentivo suficiente para produzir filmes, séries, documentários e animações para atingir certa representatividade dentro da grade destes catálogos?

É fato que o mercado audiovisual brasileiro melhorou muito nos últimos anos, mas vale lembrar que acabamos de conquistar nosso primeiro Oscar com Ainda Estou Aqui, enquanto países vizinhos como Argentina e Chile já haviam conquistado tal feito.

Para que este mercado mantenha e amplie este bom momento, é preciso um trabalho de base, com investimentos na formação de atores, produtores e diretores, e no fomento para as produtoras em atividade, já que a maioria despende mais tempo tentando viabilizar projetos que tornando-os realidade.

Temos excelentes profissionais e produtoras na luta, há anos, para levar seus projetos ao público. Projetos prontos, que aguardam apenas uma oportunidade de serem vistos.

Sim, precisamos garantir espaço nas plataformas, mas precisamos oferecer a estas plataformas projetos que atendam as demandas de seus públicos.

Comédia, drama, ficção, aventura, romance. Seja qual for o gênero, nossos talentos estão a postos. Mas precisamos compreender que, muito além do artístico e cultural, há também o business. Cada plataforma tem uma particularidade e se queremos nos fazer representar, precisamos alimentá-las, não apenas com quantidade.

O mercado da economia criativa cresce a cada ano e gera milhares de empregos e oportunidades. Mas ainda há espaço para muito mais.

Vale destacar: a Petrobras é uma das maiores incentivadoras do cinema nacional. Mas precisamos de outras!

por Fábio Alexandre

No jornalismo desde 2000, já passou por diversas redações, sempre envolvido com a cultura de Indaiatuba (SP) e Região Metropolitana de Campinas (RMC). Fã de cinema, games, séries, literatura e histórias em quadrinhos, é co-editor do portal Nerd Interior!

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