O cinema sempre nos trouxe histórias de superação. E aliá-las ao esporte é corriqueiro, já que muitos dos atletas têm origem humilde e enfrentam dificuldades para vencer, mas acabam encontrando seus dias de glória. E o boxe sempre rendeu excelentes filmes que mostram mais do lado humano do que o ímpeto esportista destes atletas, indo de Touro Indomável (1980) a Creed: Nascido para Lutar (2015).
Até mesmo o cinema nacional já nos contou histórias reais de nossos lutadores. Como não se lembrar de Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo (2016) que conta a saga deste grande campeão do MMA? Desta vez, Éder Jofre, um dos maiores pugilistas do mundo e ídolo brasileiro do boxe, ganha a sua cinebiografia pelas mãos do diretor José Alvarenga Jr. (Os Normais: O Filme).
O drama 10 Segundos Para Vencer conta a trajetória de vida de Éder Jofre (Daniel de Oliveira, de Cazuza – O Tempo Não Pára), desde sua infância até a vida adulta, mostrando como seus laços familiares e seus sacrifícios fizeram dele um grande campeão de seu país.
Com exímias atuações de Daniel de Oliveira e Osmar Prado (Olga) – que interpreta o pai de Éder, Kid Jofre – o filme funciona tanto como cinema quanto como um documentário sobre a vida de Jofre, reunindo até mesmo cenas de arquivo de algumas de suas lutas. E não me espanta caso venha a ser exibido como minissérie na TV aberta em breve.
Se por um lado o foco na difícil relação entre Éder e seu pai ajuda a sentirmos e nos importarmos com todo o sofrimento e drama que Éder vivia, por outro lado falta a estes dois personagens maior profundidade para entendermos exatamente o porquê de suas atitudes. O pai, Kid Jofre, exigia demais do filho – até mesmo mascar chiclete e cuspir diversas vezes, envolto em uma coberta, para perder o peso necessário para a luta -, enquanto Éder, embora muito dedicado e grande lutador, não parecia ter o mesmo amor pelo esporte que o pai.
Alvarenga deixa claro que o boxe sempre fez parte da família Jofre, tanto é que nos primeiros minutos de filme, Zumbanão (Samuel Toledo, de Polícia Federal: A Lei é Para Todos), o irmão mais velho de Éder e um dos principais pugilistas de sua época, ganha destaque e é tido pelo jovem Éder como um herói. Só que a partir do momento em que Zumbanão é “nocauteado” por ele mesmo, Éder trilha o caminho do irmão no boxe.
Nunca fica muito claro se Éder o faz por idolatria ao irmão, amor ao esporte ou respeito ao pai. E é justamente essa falta de profundidade na persona de Éder que nos impede de compreender exatamente o que o move. Até mesmo seu improvável retorno ao boxe, depois de anos de ausência, não tem uma motivação clara.
Apesar de tudo isso, 10 Segundos Para Vencer tem uma técnica apurada, principalmente na fotografia de Lula Carvalho, que usa tons pastéis e amarelos em boa parte da projeção, como que remetendo à época em que a história se passava.
As reconstituições das lutas de Éder Jofre contam com um trabalho de computação gráfica que consegue nos levar de volta às arenas lotadas de pessoas, assim como a câmera sempre próxima de Alvarenga nos faz sentir a pressão e agilidade de Éder Jofre nos ringues.
É um filme feito nos moldes das grandes produções de Hollywood e, mesmo que não consiga atingir os rounds mais elevados, 10 Segundos Para Vencer cumpre seu papel de entregar uma história honesta sobre o lutador mais importante da história de nosso país.
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