Review | A Escavação (Netflix)

A Escavação, lançado recentemente na Netflix, conta a história real da descoberta arqueológica de Sutton Hoo, possivelmente a mais importante já feita em solo britânico.

O longa é estrelado por Carey Mulligan (indicada ao Globo de Ouro deste ano por Bela Vingança), Ralph Fiennes (“aquele cujo nome não se deve falar” em Harry Potter) e Lily James (que já deve ter carteira assinada na Netflix, com Rebecca: A Mulher Inesquecível e A Sociedade Literária e a Casca de Batata produzidos pelo serviço de streaming, mais Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo e Em Ritmo de Fuga em cartaz no catálogo). A direção é de Simon Stone, de A Filha. E vai ter spoilers!

Carey é Edith Pretty, uma aristocrata viúva que comprou a propriedade de Sutton Hoo, perto de Suffolk, justamente pela possibilidade de encontrar algum vestígio arqueológico. Com o museu local ocupado com as escavações de um sítio romano, e na iminência de uma nova guerra contra a Alemanha, ela contrata o escavador Basil Brown (um Fiennes envelhecido e sem o menor vestígio do galã que chegou a ser), um autodidata da classe trabalhadora, que afirma conhecer como ninguém o solo da região. Quando eles desenterram um navio funerário anglo-saxão, tanto o museu de Ipswitch quanto o Britânico correm para disputar o sítio arqueológico.

A crítica Isabela Boscov, durante anos a titular de cinema da Veja, achou que faltou emoção na descoberta de um achado tão importante. Para mim, o filme destaca outras coisas, tanto é que pouco é mostrado das relíquias encontradas, que são impressionantes (para saber mais, clique aqui).

Diagnóstico

A própria Edith é diagnosticada com uma doença cardíaca sem tratamento na época, e vê nas escavações uma última chance de um legado seu e do falecido marido para o filho. Basil Brown vê sua descoberta ser tomada pelos arqueólogos com títulos acadêmicos, e fica entre se retirar com seu orgulho ou permanecer e ajudar a revelar seus segredos, mesmo como mero subalterno.

A jovem equipe de arqueólogos do Museu Britânico inclui os recém-casados Stuart (Ben Chaplin, de A Lenda de Tarzan) e Peggy Pigott (Lily James). Ele parece mais interessado nas escavações com um colega do que aproveitar o leito conjugal. Ela percebe algo diferente no marido (em 1939, homossexualismo era crime na Inglaterra), enquanto começa a notar o interesse do galante primo de Edith, Rory (Johnny Flynn, o David Bowie de Stardust).

Como em Com a Morte na Alma, de Jean-Paul Sartre, os personagens vivem a ansiedade da guerra que virá inevitavelmente e que vai afetar tanto os futuros combatentes como os que ficarão em casa. A futilidade de certas convenções e a urgência em viver o que resta da vida cerca os extraordinários eventos de Sutton Hoo, que representa a permanência da história mesmo muito depois das pessoas e suas sociedades terem desaparecido.

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Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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