Review | A Maldição da Chorona

A Maldição da Chorona saiu melhor que a encomenda. Não que o filme vá te aterrorizar à noite, mas, por surfar na onda do universo de Invocação do Mal, este poderia ser apenas mais um caça-níquel no qual o terror é deixado de lado para a encheção de linguiça, mais ou menos o que aconteceu no péssimo A Freira. Aqui, a meu ver, há momentos de se orgulhar.

Os roteiristas Mikki Daughtry e Tobias Iaconis (ambos de A Cinco Passos de Você) tiraram inspiração de uma lenda mexicana para escrever a história dirigida pelo estreante em longas, Michael Chaves. A lenda conta que, em vida, La Llorona afogou seus filhos e depois, em lágrimas, se matou no rio. Agora, ela chora eternamente, capturando outras crianças para substituir os próprios filhos.

Após um prólogo breve, centenas de anos antes do período em que a história se passa, somos apresentados a Anna (Linda Cardellini, a Velma do live-action de Scooby-Doo) uma assistente social viúva que cria seus dois filhos sozinha e que acaba se envolvendo com um caso que parece ter ligação com a entidade La Llorona.

Por trazer uma lenda latina a um universo repleto de entidades ainda não estabelecidas no imaginário popular – talvez apenas Annabelle tenha esse potencial – A Maldição da Chorona ganha pontos por sua abordagem que mistura diferentes culturas, ainda que careça de uma roupagem menos hollywoodiana, e uma trama que transita entre o real e o sobrenatural de maneira orgânica, sem pender demais para um dos lados.

Apesar da trama se mostrar amarrada a situações que já vimos incansáveis vezes em outros filmes do gênero, a direção de Chaves se sobressai. As sequências na casa de Anna abusam da escuridão e, graças a isso, Chaves consegue criar momentos genuínos de tensão com uma câmera que transita em longos planos pelos cômodos e corredores da casa, colocando seus personagens constantemente em situações angustiantes para o espectador mais aflito.

Dentre os personagens, quem merece destaque é o curandeiro Rafael (Raymond Cruz da série Breaking Bad) que funciona como alívio cômico – infinitamente superior ao de A Freira – e que muda o tom do terceiro ato do filme, onde a zombaria é tratada pelo próprio personagem como uma válvula de escape para a tensão prévia.

Ao final, A Maldição da Chorona é menos pior do que o trailer supõe. Vindo após o fraco A Freira pode ser visto como um avanço para o universo de Invocação do Mal, mas ainda há muito a melhorar nos próximos capítulos desta franquia que já se mostra desgastada, embora, às vezes, tenha seus lampejos de criatividade e sirva para lançar nomes promissores como o de Michael Chaves em Hollywood.

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Angelo Cordeiro

Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Cinéfilo com obsessão por listas e tops, já viram Alta Fidelidade? Exatamente, estilo Rob Gordon. Tem três cães: Johnny, Dee Dee e Joey, qualquer semelhança com os Ramones não é mera coincidência, afinal é amante do bom e velho rock'n'roll. Adora viajar, mas nunca viaja. Adora futebol, mas não joga. Adora Scarlett Johansson, mas ainda não se conhecem. Ainda.

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