Review: Anatomia de uma Queda (Prime Video)

Estreou no Prime Video nesta quinta-feira, 21, Anatomia de uma Queda, um dos indicados a Filme, Diretor, Atriz e Roteiro Original (ganhou) ao Oscar deste ano. A produção deixou de concorrer a Filme Internacional por conta de um erro ou boicote da Academia de Cinema Francesa, que escolheu O Sabor da Vida para representar o pais. Não chegou entre os cinco finalistas. Se o filme de Justine Triet estivesse na categoria, possivelmente levaria mais uma estatueta para a terra de Françoise Truffaut, porque – na moral – é bem melhor que Zona de Interesse.

Por outro lado, qual a chance de Anatomia de uma Queda na disputa principal do Oscar? Próximo de zero, apesar de suas qualidades. Oppenheimer, o vencedor, Pobres Criaturas e Assassinos da Lua das Flores – este, sim, o grande injustiçado – são superiores e muito mais oscarizáveis.

O roteiro vencedor do Prêmio da Academia (de Justine Triet e Arthur Harari) é engenhoso, instigante mas muito valorizado pela direção competente de Triet e pela atuação de Sandra Hüller, que concorreu ao Oscar de Atriz.

Ela é uma escritora, também chamada Sandra, que acaba sendo indiciada como suspeita de homicídio quando seu marido Samuel (Samuel Theis) é encontrado morto, aparentemente de uma queda do sótão, onde fazia uma reforma. A única testemunha seria o filho do casal, Daniel (Milo Machado-Graner), que é portador de deficiência visual. Ela recorre a um antigo namorado e advogado, Vincent (Swann Arlaud), para defendê-la das acusações.

As cenas de tribunal são bem feitas, mantém uma boa dinâmica e suspense à medida que as revelações parecem comprometer Sandra cada vez mais. Muitos comentaram sobre o circo da mídia, mas não achei tão exagerado assim, a não ser um certo momento em que a repórter extrapola até para nossos padrões sensacionalistas. Mas o espectador não tem dúvidas que ela é inocente, spoiler alert. A composição do promotor é vilanesca (a ponto dele ficar esfregando as mãos, como o Mr. Burns, de Os Simpsons); o marido é retratado como um fraco, invejoso do sucesso da mulher; e o testemunho do filho resolve o veredito. Para que não reste nenhuma dúvida, a cena final, com o cachorro buscando a cama da dona, dá aos espectadores a certeza de que tudo acabou bem, pois os cães sabem quem são as boas pessoas, não é (Adolf Hitler tinha dois pastores alemães a quem amava)? E por conta de sua atuação, o totó Messi, sob o nome Snoopy, se tornou tão estrela que “participou” da cerimônia do Oscar (na verdade, ele foi filmado na véspera). Ainda chegará o dia em que a Academia de Hollywood vai criar a categoria Melhor Pet.

 

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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