Em uma época na qual as mulheres tem ganhado cada vez mais protagonismo nos filmes de ação, eis que ressurge Luc Besson com Anna – O Perigo Tem Nome, mais uma mulher para sua galeria de protagonistas nada frágeis. Besson pode estar longe de ser um bastião do feminismo – basta ver as denúncias de assédio envolvendo seu nome – mas suas personagens ficaram marcadas quando o assunto é mulheres em ação.
Foi em 1990, com Nikita – Criada Para Matar, que Besson deu seu cartão de visitas para o cinema com uma protagonista complexa e de aparência frágil mas que se virava muito bem na porradaria, depois disso ele definitivamente marcou seu nome na história com filmes como O Profissional e O Quinto Elemento.
As mulheres sempre estiveram presentes em sua filmografia – e na maioria das vezes muito mais interessantes que os homens – a jovem Natalie Portman em O Profissional e a Leeloo de Milla Jovovich em O Quinto Elemento permanecem emblemáticas, e até Joana d’Arc ganhou uma versão sob a ótica do diretor em 1999, e desde o não tão bem recebido Lucy (2014) que Besson não voltava a conduzir uma mulher em um longa de ação.
Dessa vez com Anna – O Perigo Tem Nome, Besson remete aos filmes de espionagem da Guerra Fria para fazer de sua heroína quase uma versão repaginada de 007. É curioso notar como nos últimos anos alguns filmes do gênero surgiram, em 2018 Jennifer Lawrence protagonizou o fracassado Operação Red Sparrow, enquanto Charlize Theron se saiu melhor em Atômica (2017), apesar de nenhum ter sido grande sucesso de público – os rios de dinheiro ficam para as heroínas da Marvel e da DC – suas existências são provas de que há um olhar para as mulheres nesses tipos de filme.
Anna Poliatova (Sasha Luss) é aparentemente só uma modelo famosa e requisitada pelas marcas de luxo. No entanto, um segredo faz com que ela se torne uma das assassinas mais perigosas e bem treinadas do mundo. A premissa é bem simples e Besson não exagera para torná-la mais confusa do que parece (algo característico em filmes do gênero), mesmo que não siga uma linearidade para contá-la.
Numa trama repleta de idas e voltas, o roteiro é bem amarrado para manter a curiosidade do espectador aguçada a todo instante, em diversos momentos somos testemunha de acontecimentos para depois recapitulá-los por um ponto de vista diferente.
Logicamente, escrevendo aqui isso pode parecer um recurso gratuito e cansativo, mas Besson faz bom uso dele já que sempre nos apresenta algo que agrega aos personagens, sem parecer um truque apenas para nos pregar peça (mas também é), nessa brincadeira de vai e vem Besson nos instiga a perceber pequenos detalhes que irão virar a mesa.
Além da edição frenética que não nos deixa respirar por muito tempo, as atuações também merecem destaque. Sasha Luss é a femme fatale que James Bond sempre quis ter ao seu lado. Besson dá à personagem oportunidade suficiente para que ela não seja mero objeto sexual, demonstrando como é possível uma mulher se manter no controle da situação apesar de sua aparência frágil de modelo. Suas sequências de ação são empolgantes e a beleza de Luss também é utilizada a seu favor, sem banalidades.
Entre os coadjuvantes, Helen Mirren (Red – Aposentados e Perigosos) é quem mais nos diverte com sua postura sisuda de uma alta-comandante do serviço secreto soviético, Luke Evans (Mistério no Mediterrâneo) e Cillian Murphy (Batman Begins) também desempenham bem seus papéis, um pelo lado soviético outro pelo lado americano, ambos sempre correndo atrás de Anna, um tentando conquistá-la e outro tentando prendê-la.
Ao final, Anna – O Perigo Tem Nome é um filme que se resume como uma revigorante volta de Luc Besson aos filmes de ação com uma mulher como protagonista. Para uma época em que o público quer ver mais de Capitã Marvel e Mulher-Maravilha pode ser um desafogo, já que aqui há violência, sensualidade e feminismo como poucos filmes de heroínas tiveram até aqui.
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