Review | Army of the Dead: Invasão em Las Vegas

Chegou esta semana uma das mais aguardadas atrações da Netflix para o mês de maio: Army of the Dead: Invasão em Las Vegas. É a volta de Zack Snyder ao gênero de zumbis, após sua estreia com o ótimo Madrugada dos Mortos, e após a polêmica envolvendo sua Liga da Justiça.

O filme, que tem duas horas e meia de duração, confirma que Snyder trabalha melhor material pré-existente que suas próprias ideias originais (vide Sucker Punch). Na verdade, ele acaba amontoando diversas referências numa tentativa de roteiro coerente, o que, naturalmente, não dá certo. Mas vamos ao plot.

Um comboio do Exército Americano sob o sarcástico nome-código de os Quatro Cavaleiros (do Apocalipse) sofre um acidente perto de Las Vegas, libertando um monstro canibal (Alienígena? Experiência Genética?). Alguém falou em Super 8?

Logo, toda Cidade do Pecado é contaminada pela praga zumbi e durante os divertidos créditos acompanhamos um grupo de soldados tentando salvar pessoas das hordas de mortos-vivos. É a melhor e mais original coisa do filme.

Passa-se o tempo e o líder do grupo, Scott Ward (Dave Bautista, o Drax de Guardiões da Galáxia), é abordado pelo milionário Bly Tanaka (Hiroyuki Sanada, do atual Mortal Kombat) enquanto trabalha numa lanchonete. A proposta é reunir um grupo de especialistas, entrar na Las Vegas tomada pelos zumbis e retirar 200 milhões de dólares de um cofre em um cassino.

O pagamento é de 50 milhões de dólares a ser dividido como Ward quiser. Paralelamente, acompanhamos a jovem voluntária Kate (Ella Purnell, de O Lar das Crianças Peculiares), filha de Ward, lutando pelos internados em um campo de refugiados ao redor de Las Vegas, que o governo americano acaba usando para concentrar todos os indesejados – leia-se imigrantes ilegais – como potenciais contaminados.

É um conceito interessante, especialmente quando o agente de segurança Burt (Theo Rossi, de Luke Cage) usa seu termômetro (zumbis tem baixa temperatura) como instrumento de intimidação. Mas a ideia é esquecida no churrasco.

O tempo corre contra os assaltantes, porque o presidente quer acabar com o problema zumbi jogando uma bomba nuclear em Las Vegas no dia 4 de Julho. Toda a discussão é acompanhada em noticiários de televisão, de forma muito parecida com O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, de quem Snyder é fã.

A equipe formada por Maria Cruz (Anna de la Reguera, a freira bonita de Nacho Libre) e Venderohe (Omari Hardwick, de Power), considerados família por Ward; o youtuber Mickey Guzman (Raul Castillo, de Atypical) e sua parceira irada Chambers (Samatha Win, que foi Kitana no seriado Mortal Kombat: Legacy); a piloto de helicóptero Marianne Peters (Tig Notaro, de Star Trek: Discovery); o arrombador de cofres Dieter (Mathias Schweighöfer, de You Are wanted, do Amazon Prime): o segurança de Tanaka, Martin (Garret Dillahunt, se você souber de um filme ou série em que ele não é um fdp, me avise); a coyote Lilly (Nora Armazeder, de Protegendo o Inimigo) e o já citado Burt.

O time se parece muito com o de Aliens: O Resgate, e os acontecimentos subsequentes também.

Já os zumbis tentam fugir da fórmula clássica de George A. Romero – o pai dos mortos-vivos da cultura pop – e se aproximam de uma mistura dos vampiros de Blade com os contaminados de Eu Sou a Lenda. Existe uma hierarquia entre eles que é pouco explicada (talvez para ser melhor desenvolvida na série de animação. já anunciada), mas muito explorada visualmente, já que zumbi não fala.

No final das contas, Army of the Dead: Invasão em Las Vegas é uma enxurrada de clichês, infelizmente, mal costurada. Há cenas de ação iradas? Sim, mas o orçamento limitado (US$ 90 milhões, quase o mesmo que Snyder gastou só pra remendar a Liga da Justiça) aparece no resultado final, principalmente no elenco.

Com exceção de Bautista, falta carisma e desenvolvimento aos personagens, com quem a gente acaba não se importando muito e, por vezes, até torcendo para morrer logo. O fato de serem todos ilustres desconhecidos colabora com isso, mas a irritante Kate se destaca na categoria “melhor nem ter entrado no rolê”.

É um produto que vai engajar os assinantes da Netflix – já está em primeiro lugar no Brasil – mas que poderia ser bem melhor, considerando a capacidade de Snyder, que já nos deu Madrugada dos Mortos, 300, Watchmen (sim, eu gosto do filme) e sua Liga da Justiça. Nem o adepto do SnyDeus Jurandir Filho, do Cinema com Rapadura, gostou, para se ter uma ideia.

Já que você paga a mensalidade da Netflix e o filme está lá, assista. Mas primeiro, termine aquela série que já havia começado. Sem pressa…

 

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

Leia também...

Mais deste Autor!

+ Ainda não há comentários

Add yours