Brincar com o imaginário das pessoas é algo que o cinema sempre se permitiu. Quem não conhece a história da primeira exibição de cinema da história? A Chegada de um Trem à Estação (1895), dos irmãos Lumière, trazia em poucos segundos um trem chegando em uma estação, algo que assustou algumas pessoas da plateia que imaginaram que seriam atropeladas.
Conceitos já pré-estabelecidos são ainda mais divertidos de se brincar. Hoje, em plena era dos heróis, é fácil imaginar, mas volte algumas décadas, quando o fã de quadrinhos sonhava em ver seu super-herói favorito nas telonas. Agora, imagine o mesmo super-herói usando seus poderes em nome do mal. Isso, com certeza, já passou pela cabeça de muitos.
É essa a premissa de Brightburn – Filho das Trevas, e a própria distribuição do filme faz uso de uma possibilidade que não sai da mente dos fãs de histórias em quadrinhos: “E se o Superman fosse do mal?”.
Sem maiores explicações: o Superman do mal
Na história, Tori e Kyle Breyer (Elizabeth Banks e David Denman, ambos de Power Rangers – O Filme) são um casal que não conseguem ter filhos, apesar das diversas tentativas. Um dia, uma nave alienígena cai no terreno de sua propriedade trazendo um bebê em seu interior. Eles decidem criar a criança como se fosse seu próprio filho mas, com a chegada da puberdade, Brandon (Jackson Dunn, que fez uma pequena ponta como o jovem Homem-Formiga em Vingadores: Ultimato) passa a utilizar seus poderes para o mal.
Sem vergonha alguma em escancarar a referência a Superman, Brightburn é puro pastiche, mas sem zombaria. Todos os elementos que consagraram o Homem de Aço estão aqui: a nave que vem do espaço, os raios que saem dos olhos, a superforça, os efeitos nocivos quando em contato com o material de onde vem, a habilidade de voar e a ultravelocidade, enfim, Brightburn é, literalmente, o Superman do mal.
Dito isso, resta ao espectador abraçar ou não a ideia absurda e corajosa que os primos Mark e Brian Gunn (Viagem 2: A Ilha Misteriosa) – este último irmão de James Gunn, diretor de Guardiões da Galáxia, que aqui assina como produtor – decidiram pôr em prática ao escrever o roteiro do filme.
O roteiro é um fiapo e desenvolve de maneira rasa os laços familiares, apesar de mostrar muito bem o que um garoto passando por mudanças hormonais e corporais enfrenta na pré-adolescência: conversa embaraçosa com o pai sobre sexualidade, a primeira paixão pela colega de classe e o presente proibido após uma festa de aniversário em família que não terminou nada bem.
Sem lição de moral
O longa dirigido por David Yarovesky (A Colmeia) não demonstra interesse algum em se aprofundar nos dilemas morais de Brandon, que são deixados de lado para explorar sua natureza maligna, algo que está tão intrínseco a ele – e é por isso que não vale a pena perder tempo com suas motivações ou coisas do tipo.
Por mais que o garoto não tenha sido criado para fazer o mal e seja um dos melhores alunos do colégio – e consequentemente tendo noção do que é o bom e o mau – a nave que o trouxe até a Terra parece hipnotizá-lo para que ele entenda e atenda seu único propósito ali: dominar o mundo.
Sem essas amarras morais, Brandon está livre para fazer o que quiser na pequena Brightburn – e os Gunn o que quiserem de seu personagem – e, por mais que a violência seja explícita e incomode o espectador mais sensível a olhos perfurados e partes do corpo arrancadas, ela nunca extrapola o nível do aceitável.
Brightburn – Filho das Trevas é um terror B e um exercício de gênero que responde à própria pergunta: e se o Superman fosse do mal, o que ele faria? O resultado pode não ser dos mais originais, mas subverte a máxima de que o bem sempre chega para salvar o dia.
[wp-review id=”11825″]
+ Ainda não há comentários
Add yours