É difícil fazer uma crítica de Capitão América: Admirável Mundo Novo sem levar em consideração as greves de roteiristas e atores que atrasaram a produção – e certamente comprometeram o produto final.
Mas também não dá para esquecer que problemas de acabamento têm sido recorrentes nos últimos filmes do Universo Cinematográfico Marvel (UCM). Aqui, dá para identificar edição feitas às pressas, fotografia ruim, CGI questionável e, o pior, roteiro e direção descuidados.
O objetivo deste quarto produto da marca Capitão América é consolidar Sam Wilson (Anthony Mackie) como novo portador do icônico escudo, já que a série da Disney+ tem visibilidade limitada.
Nesse aspecto, dá para considerar o produto como bem-sucedido: Mackie segura a onda em tela grande e parece pronto para assumir a liderança dos novos Vingadores.
O duro é comparar este filme com produções da própria Marvel. Quem não se lembra das sensacionais lutas de Soldado Invernal e Guerra Civil, ou de sucessos mais recentes, como as batalhas aéreas de Top Gun: Maverick?
Vale debater também a interação dos personagens, como a de Wilson com seu aprendiz Joaquín Torres (Danny Ramirez), o novo Falcão, em relação ao do próprio Mackie com Chris Evans, quando se conhecem em Soldado Invernal.
Neste caso, acho a “culpa” não é dos atores, mas da direção insegura de Julius Onah (do decepcionante O Paradoxo de Cloverfied) e dos diálogos fracos, cortesia do roteiro de Malcolm Spellman, showrunner de Falcão e o Soldado Invernal, Rob Edwards e Dallan Musson.
Marcelo Hessel, do Omelete, suspeita da interferência da mudança do cenário político americano no corte final. Em Falcão e o Soldado Invernal, a questão racial é um dos temas principais, e aqui nunca é falada com todas as letras.
Também o novo Thadeus Ross de Harrison Ford – substituindo o falecido William Hurt – terá sido mudado para evitar comparações com o atual ocupante da Casa Branca?
É de se pensar, porque num dado momento, como comandante-em-chefe, ele manda a Marinha ir com tudo sobre os japoneses e de outro busca uma redenção com a filha Betty (Liv Tyler), que nunca foi lembrada desde O Incrível Hulk de 2008.
Aliás, este filme esquecido no rolê, fruto de uma estranha parceria entre Marvel e Universal, é fundamental para a trama, assim como Eternos, de 2021, um fracasso que parecia deletado da linha do tempo do UCM.
Ah, o elenco conta ainda com Giancarlo Esposito (Breaking Bad), completamente perdido no rolê, com um personagem que não soma à trama, mas que traz revelações. Completamente descartável.
ATENÇÃO!
A partir daqui, teremos SPOILERS!
Que merda de Serviço Secreto permite que pessoas sem autorização entrem armadas num evento presidencial? Aliás, onde Isaiah Bradley (Carl Lumbly) arrumou aquela pistola?
Como é que o vilão Samuel Sterns (Tim Blake Nelson), o Líder dos quadrinhos, controla pilotos de caça em pleno voo, usando apenas a luzinha do celular e uma musiquinha para entrar na mente das suas vítimas? Ele ainda diz ter ficado 16 anos preso, mas a conta “esquece” os cinco anos de blip entre o snap de Guerra Infinita e a restauração em Ultimato.
E tem o Japão fazendo dublê da China como concorrente dos EUA no Pacífico, já que Hollywood não ousa incomodar o enorme mercado da segunda maior economia do mundo, cujo governo tem como hábito bloquear filmes estrangeiros que não lhe agradam.
Harrison Ford, aos quase 90 anos, ainda carrega o carisma do astro cuja soma das bilheterias de seus papéis é uma das maiores da história.
Tim Blake Nelson, o ótimo ator dos filmes A Balada de Buster Scruggs e E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?, além da da minissérie Watchmen, podia ter sido mais bem aproveitado como Sam Sterns, sem falar em seu visual polêmico (há quem tenha gostado).
A israelense Shira Hass, de minissérie Nada Ortodoxa, como Ruth Bat-Seraph, tem uma cena para mostrar que era egressa da Sala Vermelha (vide Viúva Negra), mas não faz muito mais que isso. Aliás… pra quê isso?
Mais uma ? Eu nem lembrava que Joaquín Torres esteve em Falcão e o Soldado Invernal, o que diz MUITO sobre sua presença.
Porque ver o filme então? Para o fã, entre o resgate de O Incrível Hulk e Eternos, temos a revelação que o Adamantium enfim está no Universo Cinematográfico Marvel.
Como o metal mais resistente do universo era parte da mitologia dos mutantes, que tinham seus direitos presos à Fox, o Vibranium de Wakanda era o único metal citado até então. Agora, ofereceram uma origem Celestial (literalmente) para o revestimento do esqueleto do Wolverine.
Mais um sinal que os X-Men estão chegando.
Para encerrar, a cena pós-crédito – aquela que vem só depois de todos os letreiros – é um anúncio que a incursão, ou seja, o choque entre universos do Multiverso, está chegando.
Uma provável porta de entrada para o Quarteto Fantástico? Muito provável. Só nos resta aguardar por melhores admiráveis mundos novos.
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