Quando se fala em distopia logo imaginamos uma sátira ou comédia subversiva, alguma adaptação de um livro infanto-juvenil ou HQ e até mesmo uma ficção científica, existencial ou não.
Laranja Mecânica, Jogos Vorazes, Minority Report – A Nova Lei, V de Vingança, Fahrenheit 451, Filhos da Esperança. Os exemplos não faltam.
Em todos esses filmes a sociedade vive sob regimes autoritários e é justamente por temermos viver nessas condições que filmes assim nos incitam alguma curiosidade.
Baseado no livro de Anna Seghers, o diretor Christian Petzold (Barbara) constrói essa distopia num anacronismo bastante elegante. A história se passa nos tempos atuais, mas é como se a Segunda Guerra e o nazismo fossem uma ameaça real e crescente, os personagens tentam fugir da polícia que os levarão a campos de concentração e do exército inimigo que invade países e cidades dizimando vidas inocentes.
No meio de todo este turbilhão acompanhamos Georg (Franz Rogowski de Victoria), um alemão que, a pedido de um amigo, embarca para Marselha e assume a identidade de um escritor. Lá, ele é perseguido pela misteriosa Marie (Paula Beer de Nunca Deixe de Lembrar) – a esposa do escritor, que sonha em encontrar o marido desaparecido – enquanto tenta driblar as burocracias do sistema para embarcar para a América e ser alguém com algo a mais do que apenas a esperança e a vontade de viver.
Em Trânsito não se limita em ser somente distópico ou ter discursos inflamados, é muito maior que isso. Os personagens estão em constante busca de saírem dali, embora impossibilitados, mas nunca desistentes. Se abraçar ao mais próximo acaba sendo necessário para seguir em frente.
É um filme sobre relações humanas em tempos onde a busca pela paz e liberdade valem mais do que qualquer coisa e os momentos mais simples, como consertar um rádio velho e ouvir desabafos de outros refugiados, são os que fazem valer manter a esperança viva.
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