Review | Eu Sou Mais Eu

Não tem jeito, nosso cinema ainda precisa trilhar um longo caminho para se livrar dos estereótipos característicos dessas superproduções humorísticas que geralmente vêm com um elenco de estrelas, youtubers, influenciadores e jovens talentos que parecem escalados aleatoriamente.

Não sei se por preguiça dos roteiristas ou mau gosto, a questão é que Eu Sou Mais Eu tem vários aspectos que tornam o filme apenas mais um enlatado brasileiro no meio de tantas outras produções nacionais voltadas ao público teen.

Dito isso, a história é bastante atual e precisa disso para ter início. Camila Mendes (Kéfera Buchmann de Gosto Se Discute) é uma popstar cansada da rotina de uma grande estrela e do trato com os fãs. Certo dia, ela recebe a visita de uma espécie de “fada madrinha” que a faz retornar ao passado, precisamente o ano de 2004, quando Camila tinha 17 anos. Lá ela reencontra Cabelo (João Côrtes), um colega de colégio e Drica (Giovanna Lancellotti), uma antiga rival, que a ajudarão a compreender melhor sua essência.

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Quando falamos de roteiro e atuações, o maior problema do filme é justamente a persona adulta de Camila e a falta de timing de Kéfera nos momentos de humor.

Kéfera consegue dar à personagem características e trejeitos certeiros para torna-la intragável, porém as escolhas imaturas do roteiro fazem dos primeiros minutos do longa uma sucessão de eventos vergonha alheia, com destaque para uma sequência em que a inteligência artificial da casa da popstar responde aos comandos de “ligar o ar condicionado” como se fosse a saudosa velha surda da A Praça é Nossa, ligando o liquidificador, um humor batido que funciona até o primeiro palavrão.

Quando Camila volta no tempo e Kéfera deve interpretar uma jovem de 17 anos, o filme dá uma boa guinada, não muito por conta da atriz, mais pelos coadjuvantes e pela trilha sonora que traz “clássicos” da música brasileira, como Rouge e Planet Hemp.

Em contrapartida de Kéfera, João Côrtes tem um ótimo timing para a comédia, raramente vemos ele passar do ponto, seja nas piadinhas sutis e rápidas ou nos momentos em que deve apelar para o exagero das caras e bocas.

Mas quem merecia ainda mais tempo de tela e muito mais relevância para a história é Arthur Kohl, que interpreta o avô de Camila. Um hippie boa vida que tem as melhores falas do longa e uma naturalidade que chega a destoar no meio de tanta bobagem.

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Os aspectos técnicos do filme são típicos das novelas nacionais e não há explicação para isso ser levado ao cinema. Falta cuidado em praticamente tudo. Desde os enquadramentos ao uso de luz.

Por isso, resta ao espectador se prender à mensagem do filme, que não é ruim, pelo contrário, apenas carece de uma história melhor como suporte.

É preciso encontrar a sua verdadeira personalidade e assumi-la sem medo, afinal, em pleno século 21 já está na hora do mundo aceitar a tudo e a todos como iguais. A música da Pitty encerra muito bem o filme: mesmo que seja estranho, seja você!

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Angelo Cordeiro

Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Cinéfilo com obsessão por listas e tops, já viram Alta Fidelidade? Exatamente, estilo Rob Gordon. Tem três cães: Johnny, Dee Dee e Joey, qualquer semelhança com os Ramones não é mera coincidência, afinal é amante do bom e velho rock'n'roll. Adora viajar, mas nunca viaja. Adora futebol, mas não joga. Adora Scarlett Johansson, mas ainda não se conhecem. Ainda.

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