Review | A Garota no Trem

Emily Blunt é a principal narradora do suspense

A premissa de A Garota no Trem, escrito por Paula Hawkins, remete muito a Garota Exemplar, de Gillian Flynn. Ambos são livros de suspense que colocam suas protagonistas femininas em situações delicadas, apresentando o abuso masculino e o preconceito de uma sociedade machista.

David Fincher comandou a adaptação de Garota Exemplar, criando um suspense genuíno e perturbador, que incomodava a plateia, ao mesmo tempo em que despertava a curiosidade para os acontecimentos da história. Os problemas de A Garota no Trem começam pela escolha de seu diretor. Tate Taylor, conhecido pelo seu trabalho em Histórias Cruzadas, não domina o suspense, neste caso necessário para a trama, transformando a adaptação num dramalhão digno de enredo de novela.

Elementos narrativos para que A Garota no Trem se tornasse um novo exemplar de um bom filme de suspense não faltavam. A história fragmentada amparada pelo relato das três personagens femininas, cada uma mostrando sua visão para os fatos, renderia um quebra cabeça interessante que desafiaria a plateia a mergulhar na investigação, encaixando as peças até a revelação da verdade.

Haley Bennett é mais uma narradora da trama

Mas neste novo filme, pouco sobra para o espectador que tem sua inteligência subestimada. A trama tenta seguir os mesmos passos do livro e até se sai bem ao relatar cada uma das personagens, vividas com competência por Emily Blunt, Haley Bennett e Rebecca Ferguson, mas não existe espaço para a construção do suspense, a trama corre para explicitar os acontecimentos sem deixar as pausas necessárias para que haja a assimilação e o mistério comece a se formar. Além da falta de talento na condução do suspense, a edição equivocada muitas vezes mais atrapalha do que ajuda.

Se a atmosfera de suspense não funciona, pelo menos no drama a trama vai bem. As três personagens são bem construídas e cada uma em sua singularidade apresentam elementos essenciais para a condução da história e são de longe o maior motivo para a apreciação do longa.

Mesmo errando, A Garota no Trem passa longe de um filme ruim. A narrativa tem elementos universais que despertam a curiosidade, e o seu final surpreendente parece justo. Fazer um filme de suspense requer conhecimento, e David Fincher possivelmente apresentaria um filmaço. Este convence, mas dificilmente ficará na memória.

Joel Junior http://www.nerdinterior.com.br

Professor, divide o tempo que tem entre o aprendizado das crianças com sua paixão pelo cinema, sua obsessão por séries, sua coleção de livros e fixação por música. Mistura toda a cultura pop e ainda acha tempo para escrever e se divertir.

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