Fazer a continuação de um clássico é sempre arriscado. Sem seu protagonista, então, nem se fala. Isso não deteve Ridley Scott, talvez o maior cineasta vivo sem Oscar, que diz ter essa sequência na cabeça há muitos anos. Outra motivação, segundo o próprio, foi ver duas de suas maiores obras – Alien e Blade Runner – serem continuadas por outros cineastas.
Gladiador II retoma os acontecimentos do filme original nos créditos, na forma de animação, e começa como o primeiro: com uma grande batalha, quando navios romanos comandados pelo general Marcus Acacius (Pedro Pascal) invadem o reino numida do rei Jughurta (Peter Mansah, da série Spartacus), que existiu mesmo, mas cem anos antes do período retratado na trama.
Entre os guerreiros bárbaros aprisionados está Hanno (Paul Mescal) e entre os mortos, sua esposa Yarishat (Yuval Gonen). Naturalmente, Hanno culpa Acacius pela morte da amada e amigos.
Detalhe: o general romano é casado com Lucilla (Connie Nielsen, a mãe da Mulher-Maravilha), filha de Marco Aurélio, irmã de Comodo e mãe de Lucius, aquele molequinho que admirava Maximus. Já viu no que vai dar, né?
De uma forma vaga, mas insistente, o roteiro compara o expansionismo de Roma com o imperialismo americano e o idealismo de Marco Aurélio com o sonho dos Pais Fundadores (só faltou alguém dizer “make Rome great again”), mas não é isso que interessa ao diretor.
O negócio de Scott é fazer um espetáculo divertido e empolgante, e para isso ele teve orçamento quase infinito e um elenco bem conduzido, no qual se destacam Denzel Washington, como lanista (proprietário de gladiadores) e arrivista Macrinus; e o protagonista Mescal.
Parceria
Washington repete sua parceria anterior com Ridley Scott em O Gangster (aquele em que ele dá um tiro na cabeça do Idris Elba no meio da rua) e rouba a cena como o melífluo vilão que pretende usar os talentos bélicos de seu novo gladiador para atingir seus propósitos, enquanto o jovem ator irlandês consegue convencer como guerreiro e líder.
Pode não ser um Russell Crowe, mas é bem melhor que Legolas, digo, Orlando Bloom, em Cruzada.
Pascal não é mais o mesmo ator que surgiu para o mundo como Oberyn Martell em Game of Thrones, mas ainda dá para o gasto numa luta com arma branca. Os co-imperadores Geta (Joseph Quinn, de Sranger Things) e Caracala (Fred Hechinger, da primeira temporada de The White Lotus) existiram mesmo, mas o retrato deles no filme remete ao posterior Heliogábalo, que, segundo a história, subiu ao trono depois dos acontecimentos do filme.
Mas se a história com H maiúsculo já interessava pouco no primeiro filme, aqui Gibbons (autor de Declínio e Queda do Império Romano) vai para a lata do lixo: o negócio aqui é a dimensão épica das batalhas e o entretenimento do público do século XXI.
Nenhum diretor vivo é tão bom nisso, seja em choque de grandes exércitos (a melhor coisa em Napoleão, por exemplo) o no combate homem a homem (quase ninguém viu o ótimo O Último Duelo, lançado no mesmo ano de Casa Gucci). Não vai ganhar Oscar como o original – com exceção, talvez, de Denzel Washington – mas deve dar grana, que é o objetivo final.
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