Review: Godzilla Minus One (Netflix)

O vencedor do Oscar de Efeitos Visuais deste ano, Godzilla Minus One, chegou à Netflix. O prêmio em uma categoria técnica não deveria ser um atrativo em si, mas o fato da produção japonesa ter concorrido com orçamentos muito mais polpudos como Missão: Impossível – Acerto de Contas, Guardiões da Galáxia Volume 3 e Napoleão e ainda ser tão ou mais interessante que eles, é que chama a atenção. E o roteiro e direção de Takashi Yamazaki é melhor que os Godzillas recentes da Legendary.

No final da II Guerra Mundial, o piloto camicase Koichi Shikishima (Ryunussuke Kamiki) tenta escapar da morte simulando um problema de avião e aterrisando numa ilha usada para reparos. Os mecânicos liderados por Tachibana (Munetaka Aoki) percebem que o rapaz se acovardou, mas deixam passar. Durante à noite, eles são atacados por um monstro marinho, conhecido pelo locais como Godzilla, que vem das profundezas do mar, arrastando com ele peixes abissais mortos. Tachibana manda Shikishima usar as metralhadoras do avião para abater a criatura – que ainda tem o tamanho de um dinossauro – mas ele paralisa. De manhã, restam os dois vivos, e após o resgate pela Marinha Imperial, Tachibana entrega ao piloto fotos dos mortos com suas famílias.

Ao chegar ao bairro de Tóquio em que morava, encontra tudo destruído (os bombardeios incendiários da capital japonesa mataram mais gente que as bombas atômicas) e fica sabendo que seus pais morreram. Ele acaba abrigando a jovem Noriko (Minami Hamabe) e o bebe Akiko, todos órfãos de guerra. Relutantemente, acabam virando uma família, mesmo não formando um casal nem a menina ser filha de nenhum dos dois. Shikishima acaba conseguindo um emprego bem pago, porém arriscado, desativando minas submarinas, e acaba fazendo amizade com o capitão Akitsu (Kuanoosuke Sasaki), o cientista Noda (Hidetaka Yoshioka) e o jovem Mizushima (Yuki Yamada), tripulantes do navio que faz o serviço sujo. É durante uma dessas jornadas no mar que descobrem que Godzilla, agora maior e mais poderoso, está se aproximando de Toquio.

Este novo filme comemora os 70 anos do ícone da cultura pop, e transferiu a origem do kaiju para alguns anos antes de 1954, apenas dois anos depois da rendição do Japão, quando o país ainda lambia as feridas da guerra. O roteiro não faz ligação direta entre os testes com a bomba H no Pacífico com a mutação de Godzilla, mas digamos que isso já seja de conhecimento universal.

O momento histórico é proposital, com os americanos. que ocupavam o país, evitando manobras militares para não melindrar os soviéticos (o que faz mais ou menos sentido, vide a China), fazendo o Japão se virar com sobras de guerra para enfrentar o monstro. Tanto o couraçado Takao e o avião exerimental Shinden usados para combate-lo existiram de verdade. Mas quem luta para ter um futuro é o povo, não o governo ou os americanos. O protagonista Shikishima representa uma transição entre uma nação movida por deveres e sacrifícios e um país que valoriza as pessoas. Parece banal, mas não para os japoneses.

No final das contas, não é um grande drama de Akira Kurosawa ou Ryûsuke Yamaguchi (de Drive My Car, vencedor do Oscar de Filme Internacional em 2022), mas um ótimo entretenimento que faz questionar os gastos hollywwodianos em produções cada vez mais onerosas e vazias, que estão levando o cinema para um ponto de ruptura.

 

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

Leia também...

Mais deste Autor!

+ Ainda não há comentários

Add yours