Review | Guerra sem Regras

Guerra sem Regras vem sendo chamado de Bastardos Inglórios de Guy Ritchie. Na verdade, o cineasta britânico vem sendo comparado a Quentin Tarantino desde que surgiu com Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998), mas aqui, de fato, ele exagerou. Até trilha musical à la Ennio Morricone tem, mas infelizmente, o resultado está longe que chegar perto do autor de Pulp Fiction,

Inspirado em fatos reais e num livro a respeito, o longa conta a história de uma operação secreta na II Guerra Mundial liderada pelo major Gus March-Philips (Henry Cavill) e ordenada pelo próprio Winston Churchill (Rory Kinnear, famoso por interpretar outro premier inglês, aquele do primeiro episódio de Black Mirror), indo contra as opiniões do Estado-Maior britânico, por conta do risco de levar a Espanha, então neutra, para o lado do Eixo.

O objetivo era destruir um cargueiro italiano e dois rebocadores ancorados numa possessão espanhola na África, a fim de impedir que o navio continuasse a suprir os temidos submarinos alemães, que atacavam comboios vitais para a sobrevivência do Reino Unido.

March-Philips foi escolhido por agir fora do manual e reúne uma equipe casca-grossa para a tarefa: o sueco Anders Lassen (Alan Ritchson, de Reacher, que talvez ache que suas chances de ser o novo Batman melhorem ao trabalhar com o Superman); o marinheiro irlandês Henry Hayes (Hero Fiennes Tiffin, da série de filmes After); o homem-rã e incendiário Freddy The “Buzz” Alvarez (Henry Goulding, que trabalhou com Pierce em Magnatas do Crime, o filme); e o espião Geoffrey Appleyard (Alex Pettyfer, o Alex Ryder contra o Tempo).

Disfarces

Para apoiar a missão no local são escalados os agentes Heron (Babs Olusanmokun, de Star Trek: Strange New Worlds), como contrabandista e proprietário de um bar local; e Marjorie Stewart (Eiza González, de O Problema dos Três Corpos), disfarçada como comerciante de ouro, encarregada de seduzir e distrair o chefe nazista local, Heinrich Lür (Til Schweiger, cujo trabalho mais famoso fora da Alemanha é… Bastardos Inglórios!).

Como dizem que March-Philips foi o modelo para James Bond (talvez seja o mais próximo que Cavill chegue de 007). Aliás, o próprio Ian Fleming é personificado por Freddie Fox (A Casa do Dragão), como ajudante de ordens do brigadeiro Gubbins “M” (Cary Elwes, de A Princesa Prometida), idealizador da operação.

Outro personagem importante é o príncipe tribal Kambili Kalu (Danny Sapani, de Penny Dreadful), também líder de uma milícia local.

Com um elenco desses, uma boa história e um diretor competente, porque Guerra sem Regras não funciona?  Tudo é muito previsível e quase não há tensão palpável. Os heróis são muito fodões e os soldados nazistas são piores que os stormtroopers de Star Wars.

Para chegar perto de Bastardos Inglórios seria necessário um vilão pelo menos próximo a Hans Landa, coisa que a obviedade do malvado Heinrich Lür não dá conta. Parece uma miscelânea de tudo que já se viu no subgênero Men non Mission (Os Doze Condenados, Os Canhões de Navarone, O Desafio das Águias), mas sem alma.

Só como curiosidade, tem uma hora em que a Marjorie de Eiza González canta Jack The Knife na boate de Heron, música muito popular na América, mas na Alemanha de Hitler seria um tabu, já que os autores Bertold Brecht e Kurt Weil eram marxistas, assim como a Ópera dos Três Vinténs (que inspirou a Ópera do Malandro de Chico Buarque), peça alemã da qual a música fazia parte.

Mas o que denuncia a agente para o nazista é o uso de uma expressão ídiche (dialeto judeu) mais adiante. Mein Gott!

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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