A nova adaptação de um livro de Dan Brown acontece dez anos depois do barulho causado por O Código Da Vinci. O sucesso do filme de 2006, baseado no romance mais famoso e polêmico de Brown, rendeu ainda mais uma adaptação, Anjos e Demônios (2009). Nas duas ocasiões e agora em Inferno, os filmes têm em comum a figura do simbologista Robert Langdon, personagem mais uma vez defendido por Tom Hanks, que repete a parceria com o diretor e amigo de longa data Ron Howard.
Enquanto nas histórias anteriores Brown incomodava a Igreja, em Inferno ele parte para outros caminhos, sem deixar de lado toda a ação e clima de suspense, sempre presentes em suas obras. O trabalho histórico de Brown é sempre impressionante e em seus livros percebe-se o quão fundo vão suas pesquisas e como ele consegue extrair da arte todos os elementos necessários para compor seu enredo. Ler os livros de Brown requer sempre estar com o Google aberto ao lado, para poder conhecer todos os cenários e paisagens descritos pelo autor. Cada uma de suas histórias apresenta grande potencial cinematográfico, e não demorou muito para que Hollywood se apossasse desse material e o transformasse em uma mina de ouro.
Se nos livros Dan Brown tem domínio total de seu material, no cinema a adaptação de Inferno ficou nas mãos do experiente David Koepp. O roteirista usou o que pode da premissa de Brown, mas não se rogou em criar e modificar muitas coisas, o que neste caso não chega a atrapalhar, afinal o longa tem outros defeitos mais urgentes.
Talvez o que mais incomode em Inferno é o fato da história ser totalmente irrelevante para a atualidade. Ninguém realmente está interessado na trama apresentada no filme, ela funciona melhor no livro. Em meio a tantos blockbusters e franquias consolidadas, Inferno parece perdido. Nas aventuras anteriores existia a curiosidade e o apelo das histórias, mexia-se com religião e Igreja, ciência e fé, temas sempre polêmicos que despertam enorme curiosidade. Falta apelo nesta nova trama, algo que realmente interesse e se diferencie.
Para quem não leu o livro, a história de Inferno começa em Florença, Itália. Robert Langdon (Tom Hanks) está num hospital com um ferimento na cabeça. Abalado e sem lembrar o que aconteceu e como veio parar ali, ele é tratado por Sienna Brooks (Felicity Jones), uma médica. Langdon logo percebe que Sienna pode ajudá-lo a descobrir como veio parar ali, mas enfrenta dificuldades já que não se lembra de absolutamente nada que lhe aconteceu nas últimas 48 horas. As coisas começam a se complicar quando ele é atacado por uma mulher misteriosa e, com a ajuda de Sienna, escapa do local. Langdon percebe que em seu paletó está um frasco lacrado, nele há um estranho artefato que dá início a uma busca incessante através do universo de Dante Alighieri, autor de A Divina Comédia, de forma a que possa entender não apenas o que lhe aconteceu, mas também o porquê de ser perseguido, e descobre que o futuro da humanidade depende daquilo que irá decifrar e consequentemente impedir que uma grande tragédia ocorra.
Para deixar a plateia mais interessada, Ron Howard assume um estilo de direção duvidoso, arriscando bastante e nem sempre sendo feliz nas escolhas. Muito se perde na edição rápida demais, nos efeitos visuais equivocados e na própria condução dos atores, muitos deles estereotipados demais e sem uma função realmente necessária para a condução da história. Tom Hanks entrega mais uma atuação correta, fazendo o possível para agradar, ensaiando até um romance, mas seu personagem já foi melhor desenvolvido nos filmes anteriores. E se lá perto do final as coisas estiverem confusas, não se preocupe, o didatismo do roteiro se encarrega de explicar tudo, forçando muito a barra.
Existe mais um livro já lançado com uma história envolvendo Robert Langdon, trata-se de O Símbolo Perdido, e Dan Brown já avisou que não deixará este personagem muito tempo parado, anunciando que uma nova aventura vem por ai. Se na literatura os caminhos de Langdon estão bem definidos, nos cinemas irá depender de como será a recepção deste novo filme. Inferno nada mais é do que um entretenimento ligeiro filmado numa das paisagens mais bonitas do planeta.
Não gostei desse, mais um filme genérico do Ron Howard.