Não se fazem mais filmes de ação como John Wick. Nos tempos atuais, as produções de grande orçamento parecem limitadas aos blockbusters de super-heróis e de monstros gigantes que rendem bilhões em bilheteria e usam e abusam dos efeitos visuais. Já as produções de baixo orçamento – quando falamos em ação – não recebem o devido cuidado em um dos principais elementos que tornam esta franquia tão boa: cenas de luta com coreografias alucinantes e sem cortes excessivos.
Olhando agora, três filmes depois, não parece tão difícil produzir um filme desse – caso as pessoas certas estejam envolvidas – e o ex-dublê e diretor Chad Stahelski percebeu isso. Ao lado de David Leitch – que após o primeiro John Wick já dirigiu Atômica e Deadpool 2 – iniciou em 2014 esta franquia que chega neste 2019 ao terceiro capítulo e parece que não vai perder o fôlego tão cedo.
Se por um lado John Wick não tem o dinheiro – e nem os poderes – dos super-heróis, por outro, há o heroísmo do personagem – algo que ele carrega consigo desde o primeiro filme – quando decidiu se vingar de uma gangue que matou seu cachorro e roubou seu carro.
Neste John Wick 3: Parabellum, a história tem continuidade exatamente no mesmo ponto em que John Wick: Um Novo Dia Para Matar (o segundo capítulo) parou. Jonathan John Wick (Keanu Reeves) foi banido pela Alta Cúpula por ter infringido uma das regras mais importantes do Hotel Continental: cometer um assassinato nas dependências do local. Com isso, o proprietário Winston (Ian McShane, do novo Hellboy) lhe deu uma hora para fugir e Wick precisará recorrer a antigos aliados para conseguir se manter vivo, enquanto uma juíza (Asia Kate Dillon) surge na jogada para cobrar daqueles que o ajudaram.
Stahelski percebe que chegou a um ponto onde não havia mais como retornar à premissa do primeiro capítulo – onde tudo era mais simples – e aqui se reinventa e se exalta, no bom sentido, para tornar crível uma trama onde praticamente o mundo todo está atrás de apenas um homem.
Para isso, ele recorre ao passado lendário de seu protagonista e diversos novos personagens surgem, desde uma poderosa chefona interpretada por Anjelica Huston (Convenção das Bruxas) – com quem descobrimos mais da origem de Jonathan – até o vilão vivido por Mark Dacascos (O Pacto dos Lobos), que parte no encalço do valioso fugitivo de olho em duas coisas: nos milhões da recompensa e na oportunidade de lutar contra Wick.
Um universo cada vez mais expandido
Stahelski cria novas camadas para John Wick e mais possibilidades para seu futuro. Se aqui ele parecia rumar para o merecido descanso que Jonathan tanto almejava desde o falecimento de sua esposa, ele também segue venerando e cultuando ainda mais a figura lendária que John Wick já fora em seu passado. A Alta Cúpula segue invisível e poderosa. O personagem de Laurence Fishburne (Matrix) segue como um rei do submundo. Os aliados são tantos e surgem convenientemente, tornando quase impossível imaginarmos onde Stahelski quer chegar – e se ele quer chegar em algum lugar.
Este pode ser um problema para o futuro da franquia. Se por um lado há o deleite das cenas de luta e de combate, por outro, a história já abriu tantas portas que, para fechá-las, talvez o melhor caminho seja uma série. No entanto, até agora, não há do que reclamar. O universo criado é incrível.
Muitos dos novos personagens apresentados não são desenvolvidos a fundo, e nem precisava, já que em cenas breves é possível comprar a ideia de que Wick e eles mantém seus pactos de sangue e se respeitam. Além disso, alguns deles podem até render spin-offs, como a personagem vivida por Halle Berry (O Sequestro), que ganha uma das sequências de ação mais intensas e empolgantes, contando com a ajuda de seus dois cães.
John Wick, um lutador herói
A todo instante, Wick é tratado como um herói e uma lenda daquele submundo, sendo respeitado pelos “colegas” de profissão que chegam a admirá-lo no meio de uma sequência de luta: “é um prazer lutar com você”.
Até mesmo sua roupa social toda preta – característica desde o primeiro filme – aqui surge pouco depois de Wick chegar ao seu limite e é fitada por ele como uma espécie de uniforme. Uma cena simbólica representando mais uma vez o lado herói do protagonista.
As cenas de luta continuam muito bem coreografadas – e mais sanguinárias também – filmadas em longos planos ou com pouquíssimos cortes, uma trilha pulsante ao fundo e cada vez mais ousadas e inusitadas – a cena das facas logo no início é vibrante.
Wick segue se virando com o que tem em mãos. Se a lenda diz que ele já matou três homens com um lápis, aqui ele usa desde um livro até cavalos para confrontar seus rivais. Tudo isso sem abrir mão da vulnerabilidade do herói: ele toma facadas, tiros, socos, tudo para dar um senso de realidade ao espectador que teme por sua vida – e por seus ossos – e que torce por ele desde o primeiro filme.
A motivação de Wick também segue a mesma e é um dos maiores valores do personagem. Se a personagem de Huston questiona o fato de tudo aquilo ser por causa de um cachorrinho, basta lembrarmos o que o motivou a trilhar novamente este caminho de sangue e mortes. Wick sequer conseguiu entrar no luto por sua esposa – seu terno preto não é mera questão de elegância – ele apenas quer sobreviver para sofrer pela memória da esposa em paz e, como diz o subtítulo do filme – si vis pacem, para bellum: se quer paz, prepare-se para a guerra.
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