Julho de 1993. Um jovem nerd saía de sua cidade – que na época não contava com salas de cinema – para assistir o aguardado Jurassic Park nas telas do shopping da cidade vizinha. E que viagem… o épico dirigido por Steven Spielberg não se tornaria apenas uma obra obrigatória para os fãs, como também responsável por tornar o cinema algo – ainda mais – essencial na vida daquele jovem.
Sim, a minha história é igual a de muitos jovens daquela época. Além do encantamento óbvio pela recriação dos dinossauros na tela grande, o filme ainda deixava uma pergunta: como nós, seres humanos, poderíamos conviver com aqueles animais, extintos há milhões de anos?
Em seu livro, lançado em 1990, o escritor Michael Crichton utilizou a teoria do caos e suas implicações filosóficas para explicar o colapso de um parque de diversões povoado por dinossauros, recriados através de engenharia genética. Para o público, interessava mesmo ver a embate entre humanos e dinossauros.
Fórmula repetida em O Mundo Perdido – Jurassic Park (1997) e Jurassic Park III (2001), que colocavam os protagonistas do primeiro filme em novas situações de enfrentamento com aquela vida selvagem que, do ponto de vista evolutivo, não deveria fazer parte dos tempos atuais.
Alguns milhões de dólares a mais, a franquia resolveu tomar um fôlego, talvez na esperança de alcançar uma nova geração de fãs. E foi o que aconteceu com o lançamento de Jurassic World, em 2015, com direção de Colin Trevorrow, roteirista de Star Wars: A Ascensão Skywalker.
A volta dos que não foram…
De forma resumida, Jurassic World era nada menos que uma requentada no roteiro de Jurassic Park. Afinal de contas, após tantos anos, enfim o parque na ilha Nublar estava aberto ao público, com todo o conforto e segurança que o público precisa. Será?
Mais uma vez, o ser humano é o vilão da história, ao tentar fazer uso da engenharia genética a seu favor e mostrando, novamente, que não se brinca com a Teoria da Evolução de Charles Darwin. Só que, desta vez, além de recriar os dinossauros, os cientistas resolveram melhorá-los, testando uma nova linha de junção de DNAs dos animais pré-históricos com certas características de seres do nosso tempo.
O resultado, como não poderia deixar de ser, é catastrófico. Se no primeiro momento a missão é fugir, logo outro tema volta a ser requentado, agora em Jurassic World: Reino Ameaçado (2018). Com um vulcão prestes a entrar em erupção na ilha Nublar, o que fazer com os dinossauros que ainda vivem por lá?
A solução, logicamente, é trazer os dinossauros para nosso convívio, em um espaço totalmente controlado. Certo? Paralelamente, o filme aposta na nostalgia ao resgatar a figura do idealista John Hammond (Richard Attenborough no original e James Cromwell neste novo filme) e ao inserir uma criança misteriosa. Tudo isso em meio a negociações com empresários inescrupulosos tentando fazer de dinossauros verdadeiras máquinas de guerra.
Em meio a todas estas tramas, o diretor Juan Antonio Bayona (O Orfanato) até encontra espaço para cenas interessantes – quem não se lembra do jogo de sombras no quarto da menina, que remete aos mais puros pesadelos infantis? – e algumas cenas de ação, mas não traz nada de novo à franquia.
Domínio
Chegamos finalmente ao filme que estreia nos cinemas de todo o mundo com uma missão: reunir os protagonistas atuais com aqueles que estrearam a trilogia original. Oras, se nostalgia sempre foi o ponto forte da franquia, porque não promover este encontro em Jurassic World: Domínio?
Novamente com roteiro e direção de Colin Trevorrow, o filme começa mostrando as consequências da chegada dos dinossauros ao mundo atual. Até que ponto esta interação é positiva e, indo além, até que ponto ela é natural? Se os primeiros questionamentos levam a crer que teremos algo diferente à frente, sinto lhe decepcionar.
Certo de que os dinossauros podem acrescentar ganhos à medicina moderna, o visionário Lewis Dodgson (Campbell Scott, em uma mistura de magnatas da atualidade) estabelece uma série de estudos que – pasmem – descobrimos se tratarem de pesquisas com objetivos obscuros.
Para tanto, ele vai precisar da jovem Maisie (Isabella Sermon) e do filhote de uma personagem recorrente da franquia. Junte nesse balaio o desastre ecológico causado por gafanhotos geneticamente modificados e terá o aguardado encontro entre Claire Dearing (Bryce Dallas Howard) e Owen Grady (Chris Pratt) com os doutores Ellie Sattler (Laura Dern), Alan Grant (Sam Neill) e Dr. Ian Malcolm (Jeff Goldblum).
Sequestros ali, fugas aqui, referências por todo o canto e muitas cenas de ação regadas a alta tecnologia. Domínio revela – mais uma vez – a evolução de Hollywood e dos efeitos especiais, com dinossauros criados à perfeição do que imaginamos que eram.
No entanto, o novo Jurassic World parece mais do mesmo e nem a nostalgia é capaz de tirar um pensamento ao final da exibição: ‘eu já vi isso antes’. É impossível não relembrar de todo encantamento vivido naquele julho de 1993, mas também não é difícil chegar à conclusão que a jornada foi cansativa.
Há 29 anos atrás, discutíamos os limites da tecnologia e como seria nosso futuro se sobrepujássemos as barreiras da evolução natural. O tempo passou e ainda não chegamos a uma conclusão, pelo contrário. Apenas continuamos preocupados com a nossa sobrevivência: seja ela contra dinossauros, seja contra a perda de bilheteria.
Não há notícias sobre a continuidade da franquia, seja nos cinemas ou streaming. Caso isto aconteça, só resta um pedido: um sopro de originalidade. O desenvolvimento de dois novos personagens, vividos por DeWanda Wise (Kayla) e Mamoudou Athie (Ramsay Cole), podem indicar este caminho.
Se o encantamento e o suspense estiveram conosco nestes quase 30 anos de dinossauros na era atual, o mesmo não se pode dizer da criatividade. Por enquanto, ela ainda reside na era jurássica.
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