Lizzie é mais um daqueles filmes que segue a cartilha de contar histórias sobre pessoas que cometeram atrocidades e que até hoje permanecem sem explicação.
No caso de Lizzie, o filme aborda os fatos que levaram aos assassinatos brutais do pai e da madrasta de Lizzie Borden (Chloë Sevigny de A Rota Selvagem) que, apesar de ter a inocência sentenciada por um júri no mínimo duvidoso, tem sua história contada de uma forma que tenta justificar suas ações.
É justamente quando o filme explora a relação de Lizzie com o pai Andrew (Jamey Sheridan de Sully) que o diretor Craig Macneill (The Boy) apela para um maniqueísmo barato e costumaz nesse tipo de filme, fazendo com que o personagem do pai seja facilmente odiado pelo espectador e que as ações de Lizzie ao final, de alguma maneira, se justifiquem, o que acaba tirando um pouco do encanto de uma personagem folclórica e lendária como Lizzie Borden, muito mais interessante graças ao mistério acerca de suas motivações.
O filme acaba valendo mesmo pela ambientação que consegue nos levar ao final do século 19, em plena era vitoriana, se preocupando tanto com as pequenas particularidades da época, como a criação de pombos de Lizzie, a família patriarcal e a repressão feminina, até o design de produção, com roupas volumosas, a baixa luz das velas nas cenas dentro de casa e uma fotografia em tons neutros.
A aura sombria e de penumbra persiste por boa parte da trama, são raras as vezes em que a luz do sol entra pela janela da casa ou nos ofusca com seu brilho, o que ocorre geralmente quando Lizzie se relaciona com a empregada Bridget (Kristen Stewart de Personal Shopper).
Os movimentos de câmera são lentos e os longos takes se sobressaem, exigindo do espectador paciência e frieza para se sentir à vontade em manter o olhar em um ambiente pesado de onde algo ou alguém inesperado ou inconveniente pode surgir a qualquer momento.
Tal frieza pode ser vista no terceiro ato, quando os assassinatos cometidos por Lizzie finalmente acontecem, numa sequência bem filmada onde a protagonista se despe de qualquer pudor.
Outro ponto a ser destacado é Chloë Sevigny, segura em um papel com muitas camadas mas que merecia melhor tratamento do roteiro. Já Kristen Stewart está no automático em uma atuação burocrática que não vai além de sua característica expressão retraída.
Por apostar pouco, Lizzie não se sobressai no gênero, mas não é totalmente descartável, já que consegue envolver o espectador até certo ponto.
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