A grande expectativa gerada em torno do anúncio da Netflix sobre a produção de Malcolm & Marie se deve principalmente aos três nomes envolvidos: o diretor/roteirista Sam Levinson, o ator John David Washington e a atriz Zendaya.
Explico: Sam Levinson (filho de Barry Levinson, vencedor do Oscar de Melhor Filme e Diretor por Rain Man) é o criador do hit da HBO, Euphoria, série que teve sua primeira temporada exibida em 2019, e desde então movimenta as redes sociais, gerando expectativa para novos episódios. Sem conseguir produzir uma segunda temporada devido à paralisação do setor diante da pandemia, dois episódios especiais foram realizados e exibidos entre dezembro e janeiro últimos. A crítica destacou a qualidade do texto e as atuações, sempre explícitas e bem elaboradas.
Estrela da série, Zendaya, vencedora do Emmy de Melhor Atriz, é um dos nomes mais comentados e festejados na atual cena pop e uma das estrelas em maior ascensão em Hollywood. Também divide a atenção com Tom Holland nos novos filmes do Homem-Aranha. Já John David Washington foge das comparações com o pai famoso, Denzel Washington, e começa a trilhar uma sólida carreira nas telas protagonizando produções como Infiltrado na Klan e Tenet.
A trindade reunida agora chama a atenção para este novo filme, filmado durante a pandemia. A trama apresenta um cineasta (Washington) que volta para casa com sua namorada (Zendaya) após a estreia de seu novo filme, enquanto espera as primeiras críticas do longa. Toda a espera acaba gerando momentos tensos e a noite muda repentinamente, testando a força e a paciência do amor do casal.
Nuances
Apenas com sua dupla de protagonistas em cena durante todo o filme, o diretor e roteirista Sam Levinson abre seu leque de criatividade para apresentar o casal e todas as nuances e conflitos que carregam seus personagens. Filmado em preto e branco, o texto de Levinson assume vários riscos, despertando diversos sentimentos, tanto nos protagonistas como nos espectadores.
Mesmo primando pela esperada qualidade de seu texto, Levinson não consegue manter as coisas sob controle ao longo de uma hora e 46 minutos. Em alguns momentos, as cenas são impactantes, intensas, e o roteiro gera imprevisibilidade, despertando a curiosidade para o desfecho da história. Mas ao alongar algumas sequências, as elaboradas discussões acabam ficando vazias e duelam com o tédio que se instala.
A irregularidade da trama exige paciência do espectador. Por mais que deseje analisar de modo realista a relação e discussão do casal, a inflexibilidade do roteiro acaba cansando. Nem todas as vertentes do relacionamento parecem interessantes.
O filme também é arquitetado como uma peça de teatro, estilo que parece estar em alta, visto que adaptações recentes como The Boys in the Band e A Voz Suprema do Blues seguem esse enfoque. As ousadias técnicas ficam de lado, enquanto o que vale mesmo são as atuações e o próprio roteiro.
Se focarmos na qualidade de seus atores, Malcolm & Marie se destaca. Espetaculares, Zendaya e Washington esbanjam química e tensão. Zendaya é a primeira que, em cena, demonstra a insatisfação de sua personagem, armando o gatilho para os conflitos que vem a seguir. A atriz serve como a alma e o coração do filme, comprovando que é uma das melhores de sua geração e que ainda tem muito a explorar.
John David Washington, por sua vez, sustenta os diálogos mais contundentes, principalmente sobre a indústria do cinema, sendo mais agressivo, mas também cheio de dúvidas e inseguranças.
Buscando um retrato cruel e real de algumas relações complicadas entre pessoas que se amam em tempos de isolamento, Sam Levinson derrapa um pouco em sua narrativa, mesmo conseguindo explorar todas as tensões físicas, mentais e sexuais.
Faltou à obra um pouco mais de sensibilidade para escolher melhor as palavras e os momentos certos de usá-las, trabalhar melhor o silêncio, deixar para o espectador alguma reflexão.
[wp-review id=”17236″]
+ Ainda não há comentários
Add yours