O tunisiano Mohamed Ben Attia já havia demonstrado em seu trabalho anterior, A Amante, ser um diretor e roteirista de histórias do cotidiano masculino no mundo árabe.
Enquanto em A Amante Ben Attia fugiu da constante, e já batida, abordagem de casamentos femininos arranjados para mostrar um jovem mimado, que também tem sua vida planejada, e passa a se questionar, em Meu Querido Filho ele parte do mesmo princípio de filho em conflito interno.
A sutileza é uma característica forte em ambos os dramas de Ben Attia e aqui, mais uma vez, ele se apega a personagens masculinos para explorar um drama real de seu país: a afiliação de jovens ao ISIS na Síria.
Sami (Zakaria Ben Ayyed) é um estudante prestes a cursar a faculdade que mora com os pais e tem constantes crises de enxaqueca. Bastante protegido e afetuosamente bem cuidado, Sami leva uma rotina sem pressões por parte dos pais, eles o incentivam a estudar até certo limite e a frequentar festas, desde que isso não afete em seus estudos.
Surpreendentemente, Sami não é o protagonista do filme, embora seja a força que move os personagens. O pai Riadh (Mohamed Dhrif) é quem nos acompanha em boa parte do longa, sempre com uma câmera muito próxima a ele, geralmente vinda de trás e na altura dos ombros, como que se ele carregasse um fardo.
A mãe Nazli (Mouna Mejri) trabalha em casa e fica “presa” a este ambiente, a relação do filho é muito mais forte com o pai e podemos testemunhar isso em diversas cenas.
Prestes a se aposentar, Riadh se preocupa com as crises do filho, o acompanha nas consultas ao psiquiatra, dorme no carro enquanto aguarda o fim de uma festa que o filho frequenta e, quando Sami some sem deixar vestígios, é ele quem parte em busca de seu paradeiro.
A partir do sumiço, Riadh entra em uma investigação virtual da qual ele não se contenta e logo decide viajar à Síria. O filme então toma rumos onde a realidade parece se misturar com a imaginação. A cena em que o pai se encontra com o filho em uma ruína de pedras parece mais um sonho do que um encontro de fato.
Com a volta de Riadh ao país de origem, a direção de Ben Attia assume os rumos que parecia traçar, deixando implícito o que acontecera a Sami, fazendo com que o espectador decida por si só o destino do jovem.
Ao final, fica claro que o que realmente importa em Meu Querido Filho é o sentimento de vazio e de perda que constantemente deve arremeter as famílias daquela região. A única opção é seguir em frente já que as respostas nem sempre existem.
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