Review | Não Olhe

Do ponto de vista da psicanálise, Não Olhe pode dar pano pra manga em teses e estudos, mas a execução de Assaf Bernstein – que se limita a um genérico exercício de gênero – faz pouco caso da psique de sua protagonista, jogando fora a oportunidade de realizar um thriller psicológico com lampejos de terror.

Ao contrário de outros filmes de terror, Bernstein não se prende a uma estética sombria e ambientes fechados. Os ambientes são sempre muito amplos e monocromáticos. Isso contrasta com a mente conturbada e reprimida de Maria (India Eisley de Sitter Cam), uma adolescente tímida e de poucos amigos que está em vias de completar 18 anos.

O clichê da adolescente reprimida pelo pai (Jason Isaacs de A Cura), um cirurgião plástico com diversas amantes no trabalho, e a bela mãe (Mira Sorvino de Mutação), sempre dopada de remédios e submissa à atenção do marido, serve para fortalecer os dilemas sexuais de Maria, encantada pelo namorado da melhor amiga, vítima de bullying e com a expectativa da chegada do baile de formatura.

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Maria, a estranha

Numa fase da vida onde os hormônios estão à flor da pele, não demora muito para que toda esta repressão sexual desencadeie algo em Maria: surge no reflexo do banheiro Airam (leia no inverso) uma espécie de personalidade-gêmea livre de barreiras sociais e morais, disposta a enfrentar todos os medos e angústias que a verdadeira e apática Maria não é capaz.

Na teoria, a ideia de trocar de lugar com o seu eu mais ousado parece excelente, mas nem mesmo com um roteiro de sua própria autoria o diretor israelense Bernstein, que já teve um de seus longas adaptados para HollywoodA Grande Mentira (2010) – foi capaz de executa-la da melhor forma.

É dado um momento em que a história fica repetitiva e parece não sair do lugar, as ações de Airam se baseiam em uma vingança banal e gratuita que poderia funcionar caso a violência gráfica fosse satisfatória, mas nem como slasher agrada.

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Com isso, fica claro que Bernstein não consegue ser efetivo nem no terror – não há sustos, nem cenas chocantes – e muito menos sabe tratar das psicoses de sua personagem.

Há cenas jogadas aqui ou ali onde certo apuro de estilo e técnica se destacam, como a da escadaria em espiral e a última cena na cama, afora isso, sobra muita tentativa de ser ousado e pouca originalidade para tal.

 

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Angelo Cordeiro

Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Cinéfilo com obsessão por listas e tops, já viram Alta Fidelidade? Exatamente, estilo Rob Gordon. Tem três cães: Johnny, Dee Dee e Joey, qualquer semelhança com os Ramones não é mera coincidência, afinal é amante do bom e velho rock'n'roll. Adora viajar, mas nunca viaja. Adora futebol, mas não joga. Adora Scarlett Johansson, mas ainda não se conhecem. Ainda.

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