Review | Normandia Nua

É difícil pensar no cinema francês e não se lembrar dos grandes diretores e movimentos que uma das escolas mais importantes da Europa e do mundo já nos deram. Nem só de arte e vanguarda vive o cinema e, obviamente, em um dos países que mais produz filmes na Europa (provavelmente perdendo apenas para o Reino Unido), é claro que o mercado comercial domina. Com isso, é sempre uma grata surpresa quando uma produção sem grande primor técnico e com a cara da Sessão da Tarde chega aos cinemas brasileiros e pode ser visto pelo público em geral. Normandia Nua é esse filme.

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Na trama, Georges Balbuzard (François Cluzet, de Intocáveis) é o prefeito de Mille sur Sarthe, uma pequena vila na Normandia que enfrenta uma grave crise no setor agropecuário. Entre greves e protestos, Balbuzard encontra no fotógrafo Newman (Toby Jones, de O Nevoeiro) a oportunidade de colocar os olhos do mundo em seu vilarejo, mas será difícil convencer a todos a posarem, já que o fotógrafo é conhecido por registrar multidões nuas.

Naturalmente, a notícia de posarem nus para um estrangeiro, ainda mais americano, não é bem recebida por boa parte dos moradores dali, principalmente por três personagens que funcionam como os antagonistas do longa: o farmacêutico Férol (Philippe Duquesne, de A Riviera Não É Aqui,) que julga a todos que se mostram adeptos da nudez, o açougueiro Roger (Grégory Gadebois, de Marvin), que tem ciúmes de imaginar a esposa Gisèle (Lucie Muratet) posando nua, e Eugène (Philippe Rebbot, de Hippocrates) que não concorda em emprestar o campo ao fotógrafo americano.

Por mais que aquelas pessoas vivam em contato com a natureza, é óbvio que elas não sejam adeptas do naturalismo, ainda há certo pudor e entrave que constrange vizinhos de anos de ficarem nus lado a lado, “e no dia seguinte, como vou olhar pra ele?”, o que é reforçado na fala de Balbuzard quando ele diz ao fotógrafo Newman que até mesmo em pleno verão os normandos usam suéter e botas.

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Assumindo seu cunho cômico, Normandia Nua vai nos apresentando aos moradores daquele vilarejo de forma que passamos a conhecer um pouco de cada um deles, seus estilos de vida e também os temas urgentes que o longa de Philippe Le Guay (As Mulheres do Sexto Andar) aborda.

Embora nem todos os personagens funcionem tão bem, como a família parisiense que vai morar no campo onde o pai sofre com alergias enquanto a filha – que às vezes funciona como narradora – odeia ter se mudado para lá, o argumento do filme ganha fôlego quando decide criticar a indústria do agronegócio e também quando se apoia no romantismo do personagem Vincent (Arthur Dupont, de Os Sabores do Palácio), um romântico à moda antiga que se apaixona pela ousada e bela Charlotte (Daphné Dumons).

Ainda que não sirva como um drama de costumes, Normandia Nua é uma sessão despojada e sem grandes pretensões. Diverte e encanta por sua simplicidade e leveza ao mostrar que a união faz a força e que nem sempre são os americanos que salvam o dia.

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Angelo Cordeiro

Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Cinéfilo com obsessão por listas e tops, já viram Alta Fidelidade? Exatamente, estilo Rob Gordon. Tem três cães: Johnny, Dee Dee e Joey, qualquer semelhança com os Ramones não é mera coincidência, afinal é amante do bom e velho rock'n'roll. Adora viajar, mas nunca viaja. Adora futebol, mas não joga. Adora Scarlett Johansson, mas ainda não se conhecem. Ainda.

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