A chegada de Nós (2019), de Jordan Peele, ao catálogo do Amazon Prime Video é a chance de reavaliar esta obra de arte que foi esnobada pela temporada de premiações e por grande parte do público.
É o segundo trabalho do diretor que agitou o mundo cinematográfico em 2018 com Corra!. Obviamente, todo mundo ficou esperando outra porrada do autor oriundo do humor no Youtube, e ele não decepcionou.
Na verdade, saí do cinema achando que o filme era inferior ao primeiro, mas à medida que o tempo passava a obra ficava remexendo na minha cabeça. Fui à internet e percebi que não era só eu que tinha ficado encafifado com Nós: diversos canais “nerds” e de cinema postaram vídeos com teorias e possíveis explicações, algumas interessantes, outras bobas, mas o fato é que ninguém ficou indiferente.
Se você viu o trailer, sabe mais ou menos o ponto de partida no presente: uma família de afroamericanos viaja de férias para a praia e lá se depara com sinistros sósias que passam a persegui-los. Só que antes – SPOILER ALERT médio, porque é um prólogo – a mãe, Adelaide, interpretada por Lupita Nyong’o (Pantera Negra, 12 Anos de Escravidão), sofreu um trauma na infância em 1986, quando se perdeu numa atração de parque de diversões. Preste atenção na cena, porque ela é muito mais importante do que parece.
Outro egresso do elenco de Pantera Negra, Winston Duke, faz o marido Gabe, e numa participação muito especial. No papel da matriarca da família vizinha branca está Elizabeth Moss, em pleno hype de The Handmaid’s Tale.
Amplo
Para atiçar a vontade de ver o filme sem estragar as surpresas, vou dizer apenas que, ao contrário de Corra!, focado no racismo, a abordagem de Nós é muito mais ampla, sendo que o título original, Us, tem um duplo sentido. O trabalho de câmera revela um cineasta com um olhar autoral e percebe-se um criador inquieto disposto a percorrer caminho diverso do que o tornou sensação do ano anterior. E também que Lupita ter sido ignorada pelos principais prêmios de atuação é um absurdo completo.
Há algo do cinema de Kleber Mendonça Filho, especialmente O Som ao Redor e Bacurau, nesta obra de Peele, um clima de incômodo familiar que a gente não consegue identificar direito. Ele retoma a herança de George A. Romero ao fazer terror com pano de fundo de crítica social, mas vai além. A cena final lembra a de Os Pássaros, que de forma inovadora, terminava sem o tradicional The End.
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