Em O Anjo, o diretor Luis Ortega (Caja Negra) romantiza a história de Carlos Robledo Puch, um dos maiores criminosos da Argentina; preso há 45 anos, ele confessou ter cometido onze assassinatos e vários outros crimes, em Buenos Aires, no início da década de 70. Quando teve a identidade revelada não demorou muito para virar uma celebridade no país vizinho e, por sua aparência angelical e cabelos cacheados, foi apelidado de “Anjo da Morte”.
Ortega até tenta, mas não desenvolve a personalidade de Carlitos como poderia – ou como eu esperava -, rumando para o thriller criminal com lampejos de originalidade em sua direção e que conta também com uma trilha sonora latina envolvente e cores fortes na fotografia.
Há uma subversão sadia do estereótipo do assassino de traços fortes e de porte ameaçador que estamos acostumados a ver no cinema. O garoto Lorenzo Ferro (em seu primeiro papel no cinema) é magro, de aparência frágil, realmente lembra um anjo, porém suas atitudes e crimes são quase demoníacos, a ausência de pudor é chocante. É Ferro quem segura as pontas com uma atuação acima do filme – para o bem e para o mal.
Levado de maneira grandiosa por Ortega – que não se envergonha de poetizar e glamourizar os crimes de Carlitos -, não vai muito além da brincadeira com o loirinho dócil que mata a sangue frio, além disso, a espetacularização de Carlitos e de seus crimes acaba por torná-lo menos real e mais fictício, transformando-o em um tipo de personagem que já tem, ao menos, uma grande referência que esbanja mais charme e sutileza que ele: Alain Delon em O Samurai. Mas comparar assim é maldade e reconheço que há mérito de Ortega nessa abordagem corajosa. Comigo não rolou.
Em suma, O Anjo vale pela atuação de Ferro e pela direção fora do comum de Ortega, porém, por se basear em uma história real, faltou explorar as motivações e a psique de Carlitos para dar mais sustentação ao personagem, que parece complexo, mas Ortega perde tempo demais em mostrá-lo como anti-herói criminoso que fez jus ao alarde que recebeu quando preso.
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