Review – O Bom Gigante Amigo

 

o bom gigante amigo

Dois de alguns dos filmes mais aclamados de Steven Spielberg falam sobre amizade: E.T – O Extraterrestre e O Resgate do Soldado Ryan. Você pode discordar, mas este último, mesmo que aborde outros assuntos, também conta a história do poder e influência da amizade em situações adversas. Para o primeiro não há contestações. Talvez E.T seja o marco cinematográfico de Spielberg quando o assunto é relacionamento. Eis que muito tempo depois, o diretor retorna a temática com a adaptação de O Bom Gigante Amigo, da história homônima de Roald Dahl, que já nos trouxe obras como A Fantástica Fábrica de Chocolate, Matilda, entre outros.

O filme narra a história de amizade entre Sofia, uma garota orfã que vive em um orfanato em Londres e BGA, um gigante dócil que, após um rápido encontro, a rapta com medo da repercussão que poderia ocasionar com a sua presença na cidade. Mantida na Terra dos Gigantes, o relacionamento entre os dois passa a amadurecer e a garota se mostra determinada a ajudar seu novo amigo a se livrar de outros gigantes (estes maus e que se alimentam de crianças) que habitam a mesma terra.

Abusando de seus aspectos fantásticos, afinal, é uma adaptação de uma fábula infantil, O Bom Gigante Amigo sofre com uma narrativa enfadonha e ritmo lento, principalmente no primeiro e segundo ato do filme. Passando-se em praticamente uma locação, a casa do gigante, Spielberg não tem êxito em explorar os diálogos dos dois personagens, arrastando os primeiros dois terços do filme para lugar algum. Nem ao menos o amadurecimento da amizade de ambos é explorado de forma adequada que pudesse prender a atenção de quem assiste ao longa. Talvez o núcleo reduzido de personagens seja exatamente o grande problema de boa parte da história já que, quando chega ao terceiro e derradeiro ato, ele apresenta novos integrantes que dão uma dinâmica diferente à narrativa, incluindo as melhores e mais divertidas cenas de todo o filme.

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Apesar de vacilar no ritmo e eventos da história, Spielberg mostra que ainda entende da importância do visual e da direção de arte em um filme. Principalmente se este tiver uma temática fantástica como O Bom Gigante Amigo. Em primeiro lugar, mesmo que se passe praticamente todo em computação gráfica (bela, diga-se de passagem), o diretor consegue trabalhar a câmera de forma talentosa para demonstrar a disparidade entre a pequena Sofia e o gigante GBA, abusando da câmera que acompanha a personagem e aproveitando para mostrar a riqueza dos cenários criados para o filme.

Em interpretação, Mark Rylance, que teve os movimentos e expressões capturadas para viver o BGA, mostra porque é o novo queridinho do diretor. A qualidade de sua atuação é perceptível até mesmo na versão dublada do filme (cujo trabalho também vou comentar) já que ela é fundamentada, em sua grande parte, pelas expressões faciais produzidas pelo ator. É justo dizer que se BGA fosse mudo, você entenderia tudo o que ele gostaria de dizer. Em contrapartida, Ruby Barnhill, que interpreta Sofia, apesar dos esforços, carisma e meiguice, não consegue entregar, de fato, uma criança em sua atuação, mantendo os sentimentos da personagem sempre no mesmo patamar de expressividade, ou seja, quando ela está com medo, não parece que realmente está amedrontada. O mesmo acontece quando está feliz.

É preciso destacar o trabalho de dublagem da versão brasileira do longa, que conseguiu muito bem adaptar a dislexia do gigante ao pronunciar 6 de 10 palavras erradas. Por vezes, adaptar expressões em inglês para o português já é complicado se elas são ditas corretamente, neste caso, com os erros propositais, o trabalho deve ter sido ainda mais hercúleo.

Ao final, O Bom Gigante Amigo é a maior prova de que Spielberg deve mesmo seguir o ritmo natural da vida e apostar em filmes mais maduros e densos, como o ótimo Ponte de Espiões, do que se aventurar em fantasias infantis. Afinal, só uma criança sabe o que é, de fato, ser criança.

Rodrigo Gatti http://www.nerdinterior.com.br

Jornalista que não faz mais jornal. Nem é tão nerd, já que sabe até dançar. Lembra com avidez da época em que alugava De Volta para o Futuro nas famigeradas locadoras. Filho da era 16 bits, tem saudade do tempo em que sua maior preocupação era saber se o combustível do carro vermelho em Top Gear iria durar até o final da corrida. Hoje, seu maior problema é pagar contas com o salário de jornalista.

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