Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, de 1947 até 1952, os Estados Unidos receberam mais de 400 mil sobreviventes do nazismo, sendo que 24% deles eram judeus. A partir desse contexto, apresenta-se O Brutalista (ou ao menos a sua primeira parte, intitulada A Incógnita da Chegada).
Ao longo de três horas (ou treze anos), acompanha-se a retomada da vida do imigrante húngaro e arquiteto Lászlo Tóth (Adrien Brody, de O Pianista) no novo país. A princípio, ele vai morar e trabalhar com um primo católico-liberal (Alessandro Nivola, de Kraven, O Caçador), que possui uma loja de móveis na Filadélfia.
No emprego, o estrangeiro conhece o industrial Sr. Van Buren (Guy Pearce, de Amnésia), um cliente que irá marcar a sua vida, após a empreitada com o parente não dar certo.
Ele o procura para desenvolver um projeto colossal de centro comunitário com ares modernos, cujo desdobramento se passa no segundo ato do filme, entre 1953 e 1960 e é alcunhado como O Duro Núcleo da Beleza.
HISTÓRICO E ESTRUTURA
Esses dois atos são divididos por um intervalo de quinze minutos, recurso comum em filmes de longuíssima duração das décadas que O Brutalista retrata, apesar dele durar habituais 3h15min (excluindo-se o intervalo e os créditos finais).
O filme vem atraindo atenção positiva desde o seu lançamento em setembro de 2024, no Festival de Veneza, tanto pelo seu caráter temático e crítico, quanto por esse esmero técnico anacrônico.
Tudo foi filmado em Vista Vision, um procedimento de filmagem na horizontal, que permite uma projeção mais detalhada e emite com maior precisão o visual da tecnologia desenvolvida na década de 1950.
A IMAGÉTICA BRUTAL
De fato, é um deleite apreciar a forma magnânima e até opressora como as paisagens urbanas são exibidas, ainda mais embaladas pela trilha sonora de Daniel Blumberg, que evoca sons experimentais relacionados à construção, junto a trompetes, piano e canções da metade do século passado.
Há cenas bem imagéticas, como a Estátua da Liberdade de ponta-cabeça, exprimindo uma contestação da possibilidade de realização do sonho americano. Noutros momentos, percorre-se estradas por pontos de vista inusitados, simbolizando a trajetória sinuosa do protagonista.
Outro ponto de destaque são as passagens de tempo com montagens dinâmicas, ora com textos em tela, editados tais quais projetos executivos, ora com narrações de leituras de cartas da esposa na Europa (Felicity Jones, de A Teoria de Tudo), intercaladas com o noticiário local, divulgando aspectos do avanço econômico do país.
A CONSTRUÇÃO DO LUGAR E A DESTRUIÇÃO DO HOMEM
À medida que a construção em estilo brutalista (de concreto aparente) vai tomando forma, Lászlo vai se deteriorando psicológica e fisicamente. Em paralelo à sua obsessão pela ideia de fidelidade ao projeto inicial da grande obra de arte, há um excessivo consumo de substâncias entorpecentes.
O filme também faz uma analogia de como o imigrante é tratado na nova terra, com a expressão bastante incômoda das suas atividades sexuais. Há sempre a sensação de impotência, culpa, fragilidade e suscetibilidade ao abuso físico.
Sob o comando do jovem Brady Corbet, de 36 anos de idade e responsável pelo razoável Vox Lux (2018), O Brutalista foi produzido com modestos nove milhões e meio de dólares e conta com dez indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme.
ONDE HÁ ARTE, HÁ POLÊMICA
Assim como nessa história, nem tudo são flores, como a princípio aparentam. A incrível atuação de Adrien Brody tem sido posta em cheque, após ter sido divulgado que seu sotaque foi aprimorado com inteligência artificial.
Conforme aumenta o público que tem contato com o filme, também aumentam as suas polêmicas. Em certo ponto da narrativa, a família de Lászlo, já reunida e saturada com o tratamento nos EUA, debate sobre a viabilidade de uma nova imigração, agora para Israel.
Isso tem sido o suficiente para acusações de propaganda de sionismo e genocídio.
O fato é que O Brutalista propõe uma poética crítica com muita eficácia, ao retratar um período histórico com bastante verossimilhança e ao abordar um quesito social problemático de modo humanizado, regado a simbologias e visuais estonteantes.
Parabéns, você é brilhante para mostrar os filmes, sempre evoca a curiosiade de ver o filme. Mas estou torcendo pelo nosso “brasileirinho”.
Bjus