O Farol chegará aos cinemas brasileiros exatos 100 anos após O Gabinete do Dr. Caligari, um dos marcos do horror e do expressionismo alemão. Com inspirações claras no movimento que teve seu auge nas décadas de 20 e 30, Robert Eggers (A Bruxa) não baseia seu virtuosismo em pura vaidade estética. A embalagem deste longa-metragem vai além de uma homenagem ao expressionismo ou a cineastas de outras épocas, de Fritz Lang a Alfred Hitchcock: há conteúdo próprio nesta história que flerta entre o horror de gênero e o drama psicológico com boas doses de fantasia e sobrenatural.
Início do século XX. Thomas Wake (Willem Dafoe), responsável pelo farol de uma ilha isolada, contrata o jovem Ephraim Winslow (Robert Pattinson) para substituir o ajudante anterior e colaborar nas tarefas diárias. No entanto, o acesso ao farol é mantido fechado ao novato, que se torna cada vez mais curioso com este espaço privado. Enquanto os dois homens se conhecem e se provocam, Ephraim fica obcecado em descobrir o que acontece naquele espaço fechado, ao mesmo tempo em que fenômenos estranhos começam a acontecer ao seu redor.
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Se não fosse pela sinopse, seria difícil definir em que época se passa a história. A ilha do farol parece existir além dos confins do mundo. O farol é o sol que brilha noite e dia, é o fruto proibido, o local cobiçado. As garças, que insistem em provocar o personagem de Pattinson, são de aparência frágil, mas extremamente amedrontadoras quando juntas. A chuva torrencial e as ondas que se chocam contra as pedras da praia são a força da natureza tentando invadir o local e limpa-lo da podridão que o assola. Tudo soa metafórico e ao mesmo tempo como uma espécie de purgatório àqueles personagens.
Ensandecidos
Dafoe e Pattinson estão excelentes: sujos, mórbidos, ensandecidos e sedentos pelo gozo. Dafoe corrobora sua excelente fase ao emplacar o terceiro grande papel de sua carreira num espaço de três anos – após Projeto Flórida e No Portal da Eternidade – esbravejando uma loucura que nos atormenta com seus olhos esbugalhados e barba saliente, que Eggers faz questão de preencher a tela. Já Pattinson, embora seja engolido diversas vezes pelo “monstro” que é Dafoe, não deixa quaisquer dúvidas: é um dos melhores atores de sua geração, entre reações menos teatralizadas que as do companheiro de ilha, envolto numa espiral de sentimentos que o perturbam cada vez mais.
A fotografia em preto e branco evoca esta aura de loucura, sonhos e imaginação, o horror é potencializado não só pela razão de aspecto que nos trancafia num espaço mínimo, mas também a cada som emitido e gritado, seja das garças, da chuva, do choque das ondas, da sirene que berra incessantemente, ou até mesmo das flatulências de Wake.
Confira o trailer:
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