4 out 2025, sáb

O novo filme de Gabriel Mascaro (Boi Neon, Divino Amor) chegou aos cinemas com um Urso de Prata do Festival de Berlim na bagagem e incensado pela crítica (pelo menos o Omelete e Isabela Boscov).

Para o público em geral, a grande atração é Rodrigo Santoro, mas não se engane: a protagonista é uma só, a Teresa de Denise Weinberg, atriz veterana que participou da trilogia De Pernas pro Ar, entre outros.

O Último Azul se passa num Brasil distópico, em que o governo estabelece que idosos devem ser enviados para uma colônia de onde ninguém volta, mas tudo sob o verniz de homenagem e premiação por uma vida de trabalho.

A idade limite era 80 anos, mas foi baixada há pouco para 75, e Teresa, que trabalha numa planta de processamento de jacaré na Amazônia, tem 77. Ela tenta fugir para realizar seu sonho de voar de avião – nem que seja de ultraleve – mas ela está sob a tutela da filha Joana (Clarissa Pinheiro) e o estado está aparelhado para caçá-la e embarcá-la para o asilo de concentração a todo custo.

Road movie fluvial

Aqui, O Último Azul torna-se um road movie fluvial, uma jornada de descoberta para Teresa, que do alto de seus 77 anos, que passou trabalhando para criar sua filha sozinha e – como tantos avós – ajudando a cuidar do neto, tem suas certezas desafiadas pelo que encontra em sua viagem pelos rios da Amazônia.

Com o solitário Cadu (Rodrigo Santoro), aprende a pilotar um barco, sob efeito da baba azul de um raro caramujo (daí o nome do filme). Com o desmiolado Ludemir (Adanilo), fica sabendo de um cassino chamado Peixe Dourado, onde se perde e se ganha muito.

E, finalmente, com a vendedora de Bíblias digitais, Roberta (a atriz cubana Miriam Socarras), encontra o caminho para a liberdade.

O diretor Gabriel Mascaro no set do filme (Foto: Guillermo Garza)

É a segunda abordagem de Mascaro sobre um Brasil distópico. Mas, se o pais comandado por fundamentalistas evangélicos em Divino Amor se aproxima muito do que vemos hoje, o estado que retira os idosos do sistema produtivo para dar lugar aos jovens de O Último Azul não poderia ser mais diferentes do atual cenário.

Afinal de contas, a aposentadoria está ainda mais distante após a reforma Temer, e a Geração Z, especialmente a que vive a adolescência na pandemia, reluta em entrar no mercado de trabalho formal.

Ainda assim, a aventura de Teresa, lindamente fotografada por Guillermo Garza (Resgate Suicida) e roteirizada por Gabriel Mascaro e Tiberio Azul, com colaboração de Murilo Hauser (roteirista de Ainda Estou Aqui e A Vida Invisível) e Heitor Lorega (também de Ainda Estou Aqui), resulta em um belo filme.

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