O novo longa de Aaron Sorkin (roteirista do excelente A Rede Social e que estreou como diretor no bom A Grande Jogada, de 2017) é o exemplo de que algumas histórias, talvez, fiquem melhores nos livros.
O maior problema de Os 7 de Chicago é que Sorkin parece um diretor tão apegado à agenda daquele acontecimento histórico (estão ali os fatos, a contextualização da época e os principais personagens), que a direção carece de maior personalidade e os personagens são meras peças de um jogo ardiloso de poder e ideologias, sem quaisquer traços que poderiam humanizá-los.
Tudo parece muito asséptico, no sentido de que qualquer um poderia ter dirigido aquele filme. Pior ainda: a sensação é de que assistir o longa ou ler um resumo sobre o fato dá no mesmo.
O lado bom do roteiro de Sorkin é que ele evita explicações demasiadas (mas lá no final aquelas letrinhas explicando o que se deu com cada um daqueles homens aparecem).
Dessa forma, já somos jogados diretamente no tribunal onde os sete homens, ou melhor, oito (o julgamento de um deles é anulado depois), estão sendo condenados por incitarem a violência e de conspirarem contra a Guerra do Vietnã durante a Convenção Nacional Democrata ocorrida em 1968, em Illinois, Chicago.
Toda essa contextualização é exemplar, e Sorkin comprova que é um roteirista capaz de facilitar sem subestimar.
Se você não conhece a história dos Sete de Chicago, talvez queira pesquisar sobre ela depois (o filme não ajuda a entender as motivações de muitos lados da história), mas ao assistir ao filme é fácil compreender que as intenções de Sorkin são evidenciar como o governo norte-americano (e não só o de lá) sempre teve medo da ameaça comunista, esquerdista, ou seja lá como você queira defini-la. Como? Fazendo daquele julgamento algo político para servir de exemplo a futuros revolucionários.
Não gosto de definir filmes como “chatos”, e roteiros anteriores de Sorkin comprovam como ele é capaz de tornar dinâmicos alguns assuntos menos comuns nas discussões de brasileiros, como o beisebol (O Homem que Mudou o Jogo) e o pôquer (no já citado A Grande Jogada).
Dinâmica
Aqui, a dinâmica é limitada (culpa dos filmes de tribunais) dando espaço a um certo didatismo que não atrapalha, pelo contrário, o personagem de Mark Rylance (Jogador Nº 1) é, inclusive, moldado para servir como um pilar onde o espectador irá se apoiar para entender muito do que está sendo dito e retrucado aqui e ali (inclusive, não me espantaria se o ator fosse indicado ao Oscar).
No entanto, as demais atuações apenas cumprem protocolo. Sacha Baron Cohen (O Ditador) é o alívio cômico (que tem algumas cenas fora do tribunal que soam avulsas) e Eddie Redmayne (A Teoria de Tudo) apresenta seu personagem mais “limpo”, livre de tiques ou de maquiagem pesada, desde que lembro de tê-lo visto em algum filme pela primeira vez.
Ao final, Os 7 de Chicago parece aquele filme que servirá para os preguiçosos conhecerem um fato da História através da telona (ou da telinha, maldita pandemia).
E antes de terminar o texto, vale destacar o elenco da produção, que conta com Yahya Abdul-Mateen II (como Bobby Seale), Sacha Baron Cohen (Abbie Hoffman), Joseph Gordon-Levitt (Richard Schultz), Michael Keaton (Ramsey Clark), Frank Langella (Juiz Julius Hoffman), John Carrol Lynch (David Dellinger), Eddie Redmayne (Tom Hayden), Mark Rylance (William Kunstler), Alex Sharp (Rennie Davis) e Jeremy Strong (Jerry Rubin).
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