Oito filmes e uma carreira consolidada como um dos maiores desafios enfrentados por heróis de ocasião na tela do cinema poderiam resultar em escolhas fáceis para os próximos filmes da franquia Predador, iniciada em 1987 com Arnold Schwarzenegger e Carl Weathers enfrentando uma forma tecnologicamente avançada de vida extraterrestre em uma floresta na América Central, sob comando de John McTiernan, de Duro de Matar (1988) e O Último Grande Herói (1993).
No entanto, os anos seguintes trouxeram escolhas duvidosas, como Alien vs Predador (2004) e sua continuação de 2007, que pareciam aposta certa. Afinal de contas, o que poderia dar de errado ao juntar dois dos mais terríveis extraterrestres do cinema? Bem, assista e irá entender.
Na sequência, ainda tivemos Predadores (2010), do diretor Nimród Antal (A Chamada), e O Predador (2018), de Shane Black (Dois Caras Legais), mas nenhum deles conseguiu recuperar o prestígio da franquia.
Coube ao jovem Dan Trachtenberg, que havia dirigido Rua Cloverfield, 10 (2016) e episódios de Black Mirror e The Boys, a tarefa de trazer os Yautja (espécie dos chamados predadores) de volta ao centro das atenções com O Predador: A Caçada (2022), que estreou diretamente na Disney+.
Ambientado no mundo da Nação Comanche no início de 1700, este prequel de O Predador é protagonizado por Naru, uma jovem guerreira desesperada para proteger seu povo do perigo que, inicialmente, não é representado pelo predador – e sim pelos colonizadores.
No entanto, a chegada do alienígena muda o cenário e ela precisará usar armas primitivas e sua experiência para confrontar um inimigo com arsenal tecnologicamente avançado. Se o roteiro traz uma sensação de déjà vu, fique tranquilo. É exatamente isso, mas filmado por quem conhece e é apaixonado pela franquia.
O resultado? Um dos melhores filmes de Predador dos últimos anos, garantindo a Trachtenberg a missão de expandir as aventuras do alienígena pela galáxia – e pela história. Assim nasceu Predador: Assassino de Assassinos (2025), animação que reúne três caçadas em diferentes períodos, e traz um final MUITO interessante.
Confira o Review de Predador: Assassino de Assassinos clicando aqui
Terras Selvagens
Produzido por Trachtenberg em paralelo com Assassino de Assassinos, Predador: Terras Selvagens é o mais novo exemplar da franquia e, mais importante que isso, uma verdadeira virada de chave. A razão? Pela primeira vez, acompanhamos uma aventura dos Yautja protagonizada por um deles, o jovem Dek (Dimitrius Schuster-Koloamatangi), em busca de seu lugar no clã.
Tudo começa quando Dek, considerado fraco por seu pai, resolve viajar ao hostil planeta Genna para matar uma criatura que poucos tiveram coragem de enfrentar.
Porém, dizer que Genna é hostil é quase um elogio. Tudo por lá representa perigo, mas Dek acaba encontrando a androide Thia (Elle Fanning, de Um Completo Desconhecido), propriedade da megacorporação Weyland-Yutani, que perdeu suas pernas, literalmente.
Assim, os dois unem o que têm de melhor, força e conhecimento, para enfrentar Genna e chegar até o desafio final. Porém, a jornada reserva outras surpresas, como a chegada de um improvável novo aliado e a ameaça de Tessa (também vivida por Elle), outra androide disposta a tudo para cumprir sua missão.

Paradigmas
Antes de tudo, acompanhar a jornada de Dek é uma oportunidade ímpar para compreender melhor os Yautja: suas capacidades, força de vontade e determinação em busca do objetivo.
Terras Selvagens então dá início a uma série de quebras de paradigmas dentro do que conhecemos na franquia. Além de Dek trabalhar em parceria – mesmo chamando a androide de ‘ferramenta’ – , o final mostra que o Yautja, mesmo ciente da importância da sua missão, consegue trabalhar em parceria.
É claro que não dá para negar a influência da Disney no novo filme. A compra da antiga Fox, hoje 20th Century Fox, colocou diversas franquias no colo de Mickey e companhia, e o desafio é bem claro: tornar Predador uma franquia mais leve, para toda a família.
A inclusão de uma dinâmica de equipe e as decisões tomadas por Dek no último terço do filme deixam isso bem claro: o que estamos vendo não é o Predador cruel e violento, que não mede esforços para eliminar sua vítima.
Predador: Terras Selvagens é um ótimo filme de ficção científica, que traz um arco emocional bem desenvolvido envolvendo relações familiares abusivas, momentos leves e criaturas altamente licenciáveis.
Se você é fã do Predador cruel e altamente focado em eliminar suas vítimas, talvez este filme não seja para você. Mas vou lhe contar um detalhe: prevendo o que estava por vir, levei toda minha família ao cinema. E eles se envolveram com os personagens do início ao fim, com risos, choro e atribuição de nota ao final: DEZ de DEZ.
Assim, se prefere o Predador com classificação 18 anos, assista novamente o clássico com Schwarzenegger. Porém, se acredita que a franquia pode e deve expandir suas possibilidades e seu próprio cânone, Predador: Terras Selvagens é uma excelente pedida nos cinemas.
Eu? Adorei o filme. De que outra maneira poderia ir ao cinema assistir um filme de Predador com toda a família, se não fosse assim? Mercadologicamente, faz todo sentido. Lá em casa, todos agradecemos. Resta saber se você está disposto. It’s All Business!
